CÉU DE ARVENDELL

O Céu de Arvendell

Prólogo

Nas vastas terras de Arvendell, onde os ventos carregam o perfume das florestas antigas e os rios sussurram segredos de eras esquecidas, a lenda de um amor proibido nasceu. Era uma época de reis orgulhosos, cavaleiros honrados e magos misteriosos. O destino, como sempre, tramava seu próprio desígnio, entrelaçando caminhos impossíveis e corações solitários.

Capítulo I: A Donzela e o Cavaleiro

Lady Elenya de Varyen, filha do Duque de Ethelbor, observava da janela de sua torre os campos verdejantes. A primavera chegara, trazendo com ela os festivais e torneios. Contudo, para Elenya, não passava de mais uma temporada de suspiros e de sonhos presos entre os muros de pedra. Sua beleza era comentada pelos bardos: cabelos longos como fios de ouro, olhos azul-turquesa que refletiam o próprio céu.

Porém, Elenya ansiava por algo além de sua prisão dourada. Seu coração, rebelde e inquieto, esperava por um chamado que nem ela sabia nominar. Foi então, na manhã do grande torneio, que ela o viu pela primeira vez: um cavaleiro de armadura desgastada, cuja capa vermelha dançava ao vento. Seu cavalo negro, altivo e imponente, atravessava o pátio com a elegância de uma sombra viva e majestosa.

— Quem é aquele? — perguntou Elenya a uma de suas damas de companhia.

— É Sir Alarick, minha senhora. Um cavaleiro sem brasão. Dizem que é um errante, um homem sem terra nem títulos.

— Um cavaleiro errante... interessante!

A descrição apenas acendeu ainda mais sua curiosidade. Lady Elenya sentiu o coração pulsar como nunca antes. Um desconhecido, vindo dos confins do reino, que não buscava fama ou riquezas, mas algo que ninguém compreendia, sendo uma incógnita para todos no Reino.

Capítulo II: O Encontro ao Entardecer

Naquela noite, enquanto as tochas iluminavam o grande banquete no castelo, Elenya caminhou pelos jardins, fugindo da multidão de lordes e donzelas que sorriam falsamente. Sob copa das árvores, encontrou Sir Alarick, sentado ao lado de uma fonte de pedra. A lua banhava sua figura solitária.

— Está perdido, milorde? — ela pausadamente perguntou.

Sir Alarick ergueu os olhos, e Elenya sentiu o ar faltar-lhe. Havia algo nos olhos dele – uma mistura de dor incontida e fogo ardente.

— Não, milady. Apenas me encontro em paz longe do ruído dos salões de festas.

— Por que um cavaleiro como tu escolhes viver sem brasão ou títulos, questionou-o?

Ele sorriu, um sorriso triste.

— Brasões são apenas cores em estandartes, minha senhora. Meu juramento não pertence a um senhor, mas a uma promessa.

— Qual promessa, se quereis me contar?

— Proteger aquilo que é mais puro e verdadeiro.

O coração de Elenya, tão acostumado a batidas mornas, disparou como o tambor em uma caçada.

Capítulo III: A Profecia do Velho Mago

Dias depois, um mago encapuzado chegou ao castelo. Lorde Ethelbor o recebera com desconfiança, mas os conselhos dos magos eram ainda respeitados. O velho se aproximou de Elenya durante o jantar, tocando-lhe a mão.

— Sua beleza, milady, será a luz que guiará a espada da redenção.

O salão silenciou. Todos encaravam o mago.

— O que diz, senhor? rugiu o duque.

— As sombras estão crescendo em Arvendell. Há um mal que se ergue no Norte, e apenas o amor verdadeiro será capaz de derrotá-lo. E Tu, Lady Elenya, e o cavaleiro sem nome... por ora...

Sir Alarick se ergueu da mesa.

— Basta, Senhor!

Mas o mago já estava deixando o salão, porém suas palavras continuou ecoando nos corações presentes. Elenya sabia, então, que seu destino estava irrevogavelmente ligado ao cavaleiro errante.

Capítulo IV: O Começo da Jornada

Na calada da noite, Elenya fugiu de sua torre. Montada em um corcel branco, ela cavalgou para longe do castelo, encontrando Sir Alarick às margens da floresta.

— Por que veio? — perguntou ele, visivelmente surpreso.

— Porque não posso ignorar meu destino. Se existe uma profecia, então é minha responsabilidade enfrentá-la.

Sir Alarick a observou por um instante longo, como se lutasse contra algo dentro de si.

— Muito bem, milady. Mas saiba que a estrada é sombria, e o que enfrentaremos pode destruir até o mais bravo dos corações.

— Então, destruiremos a escuridão juntos.

E assim, a donzela e o cavaleiro partiram, suas silhuetas desaparecendo na imensidão da noite, sob o olhar atento das estrelas.

— Estamos prontos, — disse ele, e a clareira foi tomada por uma luz cegante enquanto o desafio começava. 

Capítulo V: O Primeiro Desafio

Quando a luz cegante se dissipou, Elenya e Alarick se viram em um campo vasto e desolado, onde o solo era como cinzas e o ar carregava um odor de enxofre. No horizonte, erguiam-se três figuras encapuzadas, cada uma segurando uma chama flutuante em suas mãos pálidas. As figuras falaram em uníssono, suas vozes ecoando como trovões aos ouvidos dos aventureiros em busca da salvação de seu mundo entregues ao próprio destino:

— Vós, que ousam desafiar o destino, devem provar seu valor em três provas. Escolham com sabedoria, pois apenas um coração puro e uma vontade inquebrantável poderão sobreviver.

Alarick deu um passo à frente, colocando-se entre Elenya e as figuras.

— Digam-nos quais são as provas.

A figura central ergueu a chama em sua mão, que se transformou em uma espada feita de fogo.

— Primeira prova: a coragem. Enfrentem o guardião das almas perdidas e provem que podem resistir ao medo.

As outras duas figuras completaram:

— Segunda prova: a verdade. Devem revelar os segredos mais profundos de seus corações, mesmo que isso os destrua.

— Terceira prova: a união. Apenas aqueles que caminham como um só podem atravessar a ponte para a luz.

Antes que pudessem reagir, o solo sob seus pés tremeu, e uma criatura colossal emergiu das sombras, uma besta alada com olhos de brasa e garras afiadas como lanças. Era o guardião.

— Elenya, fique atrás de mim! gritou Alarick, empunhando sua espada.

Mas Elenya não obedeceu. Com uma coragem que ela mesma desconhecia, ergueu a espada de luz que havia recebido, juntos lutaram e venceram. Na segunda prova, que passaram a qual se resumia em amar e se amados mutuamente tornando-os um só em seus corações verdadeiros. Terceira prova vencida foi a pela descoberta da união inquebrantável de lutarem e se protegerem em cada desafio.

Capítulo VI: Progresso da Jornada

A jornada seria longa, repleta de perigos e segredos sombrios. Mas em meio às batalhas e às provas de coragem, Lady Elenya e Sir Alarick descobririam que o amor é a mais poderosa das magias, capaz de salvar reinos inteiros e destruir maldições ancestrais. Sob o céu estrelado de Arvendell, o amor despertou, um amor tão profundo e verdadeiro que nem o tempo ousaria apagar.

E dizem que, quando os ventos sopram pelas colinas de Arvendell, pode-se ouvir o eco dos passos do cavaleiro e da donzela, caminhando lado a lado. São memórias transformadas em lenda, são histórias contadas à luz das fogueiras. Porque um amor assim, tão puro e heroico, jamais se extingue. Ele vive para sempre nos corações daqueles que ainda acreditam na magia dos contos de outrora.

Sob a lua pálida de Arvendell, a lenda de Lady Elenya e Sir Alarick ganhou novas camadas de mistério e encanto. Era dito que, nas noites em que as estrelas cintilavam com um brilho incomum, aqueles que caminhavam pelas colinas podiam sentir uma presença, um sussurro doce, um eco distante de passos sincronizados.

Mas a história não terminou ali...

Após desafiarem os perigos que assombravam o reino e dissiparem maldições ancestrais, o destino os conduziu a um último desafio: um véu oculto entre o tempo e a realidade. As forças que antes tentaram separá-los agora espreitavam na escuridão, tentando arrancar-lhes não apenas o amor, mas a própria essência do que os tornava humanos. Para vencer, não bastava coragem; era preciso compreender o verdadeiro significado da magia que os ligava.

Quando a aurora tingiu os céus de tons dourados, Lady Elenya e Sir Alarick enfrentaram a encruzilhada definitiva. Com o coração ardente de certeza, compreenderam que o amor, na sua forma mais pura, não apenas desafiava os séculos, mas criava pontes entre mundos. 

E assim, ao atravessar o véu que os separava de seu destino, tornaram-se mais do que lenda: tornaram-se parte do próprio tecido do universo, onde ecos de sua jornada nunca deixariam de ressoar. E dizem que, quando as folhas sussurram ao vento e o céu brilha com mil fogos celestes, pode-se sentir a presença dos dois, caminhando lado a lado em um reino que nunca será esquecido.

Através do véu que separava os mundos, Lady Elenya e Sir Alarick sentiram a pulsação de uma força ancestral, um chamado que ecoava desde tempos imemoriais. Enquanto atravessavam a fronteira entre o conhecido e o desconhecido, vislumbraram um reino diferente de tudo que haviam imaginado.

Era um mundo onde as estrelas não apenas iluminavam o céu, mas sussurravam segredos aos viajantes. Árvores com folhas de cristal refletiam memórias esquecidas, e rios dourados fluíam com o tempo que jamais poderia ser aprisionado. Esse era o domínio dos Guardiões do Destino, seres que há milênios vigiavam o equilíbrio entre criação e destruição.

O casal compreendeu que sua jornada não terminaria com a vitória sobre as maldições do passado, mas com a escolha definitiva: seguir adiante e reescrever as leis que regiam os mundos ou retornar e viver como parte da lenda que já haviam se tornado.

Com mãos entrelaçadas e corações pulsando em sincronia, decidiram aceitar o chamado dos Guardiões. O preço seria alto, pois para moldar o destino, deveriam compreender e aceitar cada sacrifício que a mudança exigiria. Assim, ao pisarem no solo do reino oculto, tornaram-se mais do que heróis, tornaram-se parte do tecido que sustentava o equilíbrio do universo.

E dizem que, quando a aurora toca as colinas de Arvendell com seu brilho dourado, pode-se ouvir, em meio ao vento, os sussurros de Lady Elenya e Sir Alarick. Não apenas como lembranças, mas como criadores de uma nova era.

Capítulo VII: O Ressoar do Destino

As estrelas de Arvendell brilhavam com intensidade incomum naquela noite. Lady Elenya e Sir Alarick, agora imersos no reino oculto dos Guardiões do Destino, sentiam o peso da escolha que haviam feito. O amor os havia levado além das fronteiras do tempo, mas o que os esperava adiante era mais do que um simples desfecho, era uma revelação que mudaria tudo.

À frente deles, um círculo de luz pulsava como um coração ancestral, refletindo fragmentos de vidas e histórias entrelaçadas. Era ali que os Guardiões do Destino revelariam o último segredo: nenhum amor que desafia o tempo permanece inalterado. Para criar uma nova era, era preciso entender que o destino não se escreve sem sacrifícios.

Os ecos do passado e do futuro se misturavam, e diante daquela visão, Sir Alarick segurou com mais firmeza a mão de Lady Elenya. Ele sabia que cada passo os afastava do que já haviam sido, tornando-os algo além de heróis, além de lenda. Eram criadores, moldadores do próprio fluxo da existência.

E dizem que, quando os ventos dançam sobre as colinas de Arvendell, é possível sentir o pulsar do círculo de luz, como se o destino ainda estivesse sendo reescrito, como se Lady Elenya e Sir Alarick jamais tivessem realmente partido.

Os Guardiões do Destino observavam em silêncio, suas formas quase indistintas contra o brilho pulsante do círculo de luz. Lady Elenya e Sir Alarick sentiam o peso do instante, sabiam que não era apenas um momento a ser vivido, mas um limiar a ser atravessado.

A voz dos Guardiões soou como um coro de ecos antigos, reverberando pelo reino oculto:

"Todo amor que desafia o tempo altera o tecido da realidade. Mas toda criação exige um preço. Vocês estão prontos para pagar?"

Elenya trocou um olhar com Alarick. O que significava esse preço? Seriam separados? Ou perderiam parte de si para que a nova era pudesse surgir? Eles haviam vencido batalhas, quebrado maldições, mas agora enfrentavam um dilema muito mais profundo: estavam dispostos a sacrificar o que eram pelo que poderiam vir a ser?

O círculo de luz se expandiu, revelando fragmentos de futuro, imagens que os mostravam reinando como protetores do equilíbrio, mas também cenas em que eram apenas lembranças, espectros de uma lenda distante. O destino se desdobrava diante deles, e o tempo aguardava sua escolha.

Alarick fechou os olhos, sentindo a pulsação do amor que compartilhavam. Ele sabia que não importava a forma ou o mundo em que existiriam, o que era verdadeiro jamais poderia ser apagado. Segurou a mão de Elenya com firmeza, e juntos deram um passo adiante, cruzando o limiar do círculo.

A energia os envolveu como um mar de estrelas, e então, o reino oculto se desfez ao seu redor. O tempo, antes uma estrada definida, tornou-se uma vasta imensidão de possibilidades. Eles não eram apenas viajantes entre mundos, eram criadores de realidade, moldadores da própria história.

Dizem que, quando o amanhecer toca as colinas de Arvendell, pode-se ver por um breve instante um brilho dourado no horizonte. E quem escuta com atenção poderá ouvir, entre o vento e os ecos do universo, os sussurros de Lady Elenya e Sir Alarick, não como um conto encerrado, mas como um amor que continua a escrever os destinos da eternidade.

Capítulo VIII: O Véu Entre Mundos

O tempo se retorcia ao redor de Lady Elenya e Sir Alarick como um oceano de estrelas em movimento. Após atravessarem o círculo de luz dos Guardiões, perceberam que não estavam mais no reino oculto, nem em Arvendell. Estavam em um espaço que existia entre mundos, um limiar onde o passado e o futuro se entrelaçavam, onde os ecos de histórias não contadas vibravam no ar.

Ao seu redor, imagens cintilavam como reflexos na água, rostos de reis que jamais governaram, sombras de batalhas que nunca aconteceram, instantes de amor que permaneceram apenas possibilidades. Era o Véu Entre Mundos, onde todos os destinos rejeitados encontravam abrigo.

Um Guardião se aproximou, sua voz como o vento que sussurra em antigos pergaminhos:

"Vós cruzaram o limiar da criação, mas antes de seguirem, devem compreender a natureza do que deixaram para trás. Todo ato de mudança apaga caminhos que nunca serão percorridos. O amor que os trouxe aqui também criou ecos que jamais se concretizarão."

Elenya olhou ao redor, sentindo o peso dessa revelação. Se haviam moldado o destino ao atravessar o círculo, então existiriam versões deles que nunca mais seriam vividas, realidades onde suas mãos nunca se entrelaçaram, onde a maldição nunca foi quebrada, onde Arvendell se perdeu no tempo.

Sir Alarick avançou, seu olhar determinado. "Se essas sombras são os caminhos que abandonamos, então é nosso dever compreender seu significado e remodelar nossa existência."

O Guardião assentiu e estendeu sua mão.

"Caminhem pelo Véu e vejam o reflexo dos destinos apagados. Só aqueles que compreendem o peso da criação podem verdadeiramente moldar o futuro."

O casal se entreolhou, e então, sem hesitar, deram o primeiro passo.

Dizem que, nas noites em que a névoa cobre as colinas de Arvendell, alguns viajantes afirmam ter visto sombras que jamais caminharam por este mundo, figuras que parecem lembrar Lady Elenya e Sir Alarick. Seriam ecos do Véu Entre Mundos, memórias de destinos esquecidos? Ou apenas lendas nascidas da magia que nunca se extingue?

Capítulo IX: Os Reflexos Perdidos

O Véu Entre Mundos ondulava ao redor de Lady Elenya e Sir Alarick como um oceano de névoa cintilante. Cada passo que davam revelava fragmentos de histórias que nunca aconteceram, destinos que ficaram à margem da realidade. Era como caminhar entre ecos do que poderia ter sido.

A primeira visão os atingiu como um golpe súbito: um salão de pedra negra, coberto por bandeiras dilaceradas. Ali, um Alarick de olhos sombrios estava ajoelhado diante de um trono vazio. O brilho da bravura e do amor não existia em seu olhar, porque, naquela versão da história, Elenya jamais o havia encontrado no bosque de Arvendell. 

Ele se tornara um guerreiro solitário, perdido em batalhas que não levavam a lugar algum. Elenya tocou a superfície da visão e sentiu o eco da dor que esse outro Alarick carregava. O amor que os havia unido também os havia impedido de trilhar esse caminho solitário.

Continuaram a caminhar e viram outro fragmento de realidade: uma torre coberta de vinhas douradas, onde uma Elenya de cabelos prateados contemplava a alvorada com tristeza. Sem Alarick ao seu lado, ela nunca enfrentou as maldições ancestrais. Nunca descobriu o poder oculto que vivia dentro dela. Seu coração era o mesmo, mas o brilho de sua coragem nunca se manifestou.

Sir Alarick apertou a mão de Elenya com mais força. "Cada escolha cria um caminho, e cada caminho apagado deixa um rastro," ele murmurou.

O Guardião do Véu observava em silêncio.

"Vós agora compreendem o peso da criação. Mas entender é apenas o começo. O que farão com esse conhecimento?"

Elenya e Alarick se entreolharam. Eles haviam desafiado o tempo, atravessado maldições, moldado o destino com o amor que compartilhavam. Mas agora compreendiam que o equilíbrio exigia mais do que coragem.

"Escolheremos não apenas para nós mesmos, mas para tudo que está por vir," disse Lady Elenya, a voz firme.

Sir Alarick assentiu. "Se há caminhos perdidos, então devemos garantir que os que existem sejam fortes o suficiente para honrar tudo que foi deixado para trás."

O Guardião ergueu a mão, e o Véu começou a se dissipar.

Dizem que, quando o crepúsculo cai sobre Arvendell, as sombras dançam de uma forma incomum—como se lembrassem aqueles que nunca tiveram a chance de caminhar por este mundo. Mas também dizem que, entre as estrelas, há um brilho que nunca se apaga, um eco de duas almas que escolheram moldar o destino com amor e coragem.

Capítulo X: Os Guardiões da Trama

Ao emergirem do Véu Entre Mundos, Lady Elenya e Sir Alarick sentiram a mudança pulsar em seus corações. Não eram mais apenas viajantes, haviam compreendido os fios invisíveis que ligavam passado, presente e futuro, os caminhos apagados e os destinos moldados. Agora, o equilíbrio do universo repousava sobre a escolha que haviam feito.

Os Guardiões do Destino se reuniram ao redor deles, suas presenças imponentes como sombras vivas entre as estrelas. Um deles falou, sua voz ecoando como um sussurro profundo:

"Vocês atravessaram o Véu e testemunharam os reflexos perdidos. Agora, a trama do universo se altera diante de vocês. Vocês não são mais apenas lendas, tornaram-se tecelões do próprio destino."

Elenya olhou ao redor, vendo os fios de luz que se entrelaçavam no espaço ao seu redor. Cada fio representava um momento, um fragmento de realidade. Era um espetáculo de pura criação, e ela sentiu em seu espírito um chamado novo, um dever que transcendia a própria história.

"Somos os Guardiões da Trama," disse Alarick, sua voz firme. "Não apenas viajantes, não apenas guerreiros. Nossa jornada nos ensinou que o amor pode mudar os caminhos do mundo, mas agora sabemos que o equilíbrio exige mais do que apenas desejo, sacrifício."

Um novo círculo de luz formou-se diante deles, pulsando como uma estrela recém-nascida. O último Guardião se aproximou.

"Tu tens o poder de moldar a continuidade do tempo e preservar o equilíbrio entre os mundos. Mas o verdadeiro guardião do destino nunca impõe sua vontade, ele garante que a história siga seu curso e que cada alma tenha o direito de escolher seu próprio caminho."

Elenya compreendeu. Eles não estavam ali para comandar o fluxo do universo, mas para protegê-lo, para garantir que nenhuma sombra indesejada alterasse o curso da criação.

Sir Alarick tocou a luz do círculo, sentindo em sua essência o pulsar do universo. "Se esta é nossa nova jornada, então juramos proteger o equilíbrio e garantir que toda história siga seu próprio destino."

Elenya assentiu. "Não somos apenas lenda. Somos o próprio eco do tempo, a voz que ressoa nos caminhos que se entrelaçam."

Dizem que, quando o vento sopra sobre Arvendell, pode-se ver pequenos fios de luz dançando no ar—fragmentos da trama que Elenya e Alarick protegem, sussurros de um novo papel que nunca deixará de existir.

Se quiser, podemos explorar os desafios que eles enfrentarão como Guardiões da Trama ou expandir as implicações dessa escolha! Como deseja prosseguir?

Capítulo XI: O Primeiro Desafio

Lady Elenya e Sir Alarick ainda sentiam à energia pulsante do Véu Entre Mundos quando os Guardiões da Trama os conduziram ao próximo limiar. Eles haviam aceitado seu novo papel como protetores do equilíbrio, mas o universo logo lhes mostraria que proteger a história era um feito muito mais complexo do que simplesmente compreendê-la.

Diante deles, o tecido da realidade começou a se agitar, tremores invisíveis percorrendo as linhas do tempo. Algo estava errado, um desvio se manifestava nos fios da criação, como uma ferida prestes a se abrir.

O Guardião de voz mais antiga falou:

"Cada escolha feita pelos seres deste mundo tece um novo fio na Trama. Mas há forças que tentam desfazer esses laços e reescrever histórias que não lhes pertencem. Seu primeiro desafio como Guardiões será impedir que um destino perdido tome o lugar do verdadeiro."

Elenya observou enquanto um fragmento do tempo se revelava diante deles: um reino que deveria ter florescido estava, em vez disso, envolto em sombras. Seu governante, um homem cuja existência deveria ter sido apagada pelo fluxo natural do tempo, agora lutava para restaurar uma história que nunca deveria ter existido.

"Ele desafia as leis da criação," murmurou Alarick, percebendo o perigo.

"Sim," confirmou o Guardião. "E se ele conseguir, a verdadeira linha do tempo será destruída. Vocês devem encontrar o ponto de ruptura e restaurar o equilíbrio antes que seja tarde demais."

Sem hesitar, Elenya e Alarick avançaram em direção ao desvio, prontos para enfrentar o primeiro desafio de sua nova jornada.

Dizem que, nas noites em que o tempo parece hesitar e o vento carrega murmúrios estranhos, os Guardiões da Trama caminham entre os fios invisíveis do destino, protegendo os mundos de forças que nunca deveriam ter surgido.

Enquanto Lady Elenya e Sir Alarick avançavam para dentro do desvio na Trama, vislumbraram o reino distorcido pela interferência do governante esquecido. As muralhas que deveriam ter sido douradas e imponentes estavam cobertas por sombras inquietas, e o céu, em vez do brilho de Arvendell, pulsava com uma luz fraturada, como se o próprio tempo hesitasse ali.

O governante que desafiava o fluxo do destino chamava-se Lord Maerion, um rei que, em uma linha do tempo alternativa, deveria ter sido derrotado antes de ascender ao trono. Em sua história verdadeira, Maerion havia sido um conselheiro astuto, mas sua ambição levara à ruína de sua própria linhagem. A Trama deveria ter apagado sua existência, garantindo que outro líder justo assumisse o reino.

Porém, ele havia encontrado uma fissura no Véu Entre Mundos, um espaço onde fragmentos de destinos rejeitados ainda possuíam força suficiente para lutar por sobrevivência. Ali, Maerion descobriu um caminho para reconectar sua história à realidade, forçando sua própria ascensão e distorcendo tudo ao seu redor.

O povo daquele reino vivia entre memórias instáveis, suas vidas se alternando entre o que deveria ter sido e o que Maerion desejava impor. A cada amanhecer, suas lembranças mudavam, pois estavam presos em um tempo fragmentado, manipulados pela vontade de um governante que não deveria existir.

Elenya observou com cautela, percebendo os fios da realidade tremulando ao redor do castelo de Maerion. "Se ele continuar alterando a Trama, essa fissura se expandirá, e outros destinos rejeitados poderão surgir."

Alarick franziu o cenho. "Precisamos encontrar o ponto exato em que ele interfere na criação e restaurar o equilíbrio. Mas há algo que me intriga, se a Trama não apagou sua presença completamente, significa que ainda há algo que precisa ser resolvido."  O Guardião da Trama que os acompanhava assentiu.

"Todo eco rejeitado carrega uma falha, aquilo que impede sua dissolução completa. Se Maerion ainda existe, então há um elo que mantém sua história conectada. Descubram esse elo e poderão restaurar o equilíbrio."

Elenya e Alarick avançaram, sentindo o peso de seu primeiro desafio. Não bastava derrotar Maerion, eles precisavam compreender a natureza do erro que permitia sua sobrevivência e enfrentá-lo não apenas como um inimigo, mas como uma anomalia do próprio destino.

Dizem que, quando a noite cai sobre Arvendell, há aqueles que sonham com fragmentos de realidades que nunca deveriam ter existido, vislumbres de um rei que não governou, de um amor que nunca floresceu. E talvez, em algum canto invisível da Trama, ecos perdidos ainda lutam para serem lembrados e festejados.

Capítulo XII: O Elo Perdido

Lady Elenya e Sir Alarick avançaram pelas ruas silenciosas do reino distorcido, sentindo o peso da anomalia que se espalhava pela Trama. Era como se as memórias daquele lugar mudassem a cada instante, um fluxo instável que oscilava entre a realidade verdadeira e a visão que Lord Maerion tentava impor.

Eles sabiam que a chave para restaurar o equilíbrio não estava apenas em derrotar Maerion, mas em descobrir o elo que ainda conectava sua existência ao mundo. O erro que o permitia permanecer.

Conforme se aproximavam do castelo, perceberam que uma parte do reino resistia às alterações. Uma torre antiga, escondida entre a bruma, permanecia inalterada, suas pedras brilhando como se carregassem um segredo há muito esquecido.

"Esse lugar… não foi tocado pela distorção," murmurou Elenya.

Alarick assentiu. "Se há um fragmento intacto, então ele contém a peça que falta, o elo que mantém Maerion vivo."

Ao entrarem na torre, viram uma única chama queimando em uma lareira ancestral, seu brilho pulsando em sincronia com o fluxo da Trama. E ali, sobre uma mesa coberta por pergaminhos desbotados, encontraram um nome gravado em ouro: Soraya.

Elenya reconheceu imediatamente. Soraya havia sido a filha de Maerion, perdida durante a guerra que deveria ter apagado sua linhagem. Seu destino, como o do pai, deveria ter se desfeito no Véu. Mas algo a manteve ali. Algo preservou sua existência, e com isso, Maerion nunca foi completamente apagado.

"Se Soraya ainda existe, então Maerion tem um elo com o mundo real," disse Alarick, seus olhos analisando os pergaminhos. "Ele não pode ser apagado enquanto ela continuar conectada à Trama."

Elenya tocou um dos pergaminhos e sentiu a vibração da história perdida. Soraya não era apenas uma sombra do passado, ela havia sido uma peça fundamental na decisão que levou Maerion à ruína. Sua escolha, no último instante antes de a guerra apagar sua linhagem, havia criado um fio rebelde na Trama.

"Se quisermos restaurar o equilíbrio, precisamos encontrar Soraya," disse Elenya.

Mas onde estaria? Se Maerion a manteve oculta, então ele sabia que sua sobrevivência era a última peça que segurava sua existência.

Dizem que, em noites onde o vento carrega murmúrios sobre Arvendell, alguns afirmam ter visto uma jovem caminhar entre as sombras, como se estivesse perdida entre tempos que nunca se concretizaram. Talvez, se encontrassem Soraya, finalmente a história verdadeira pudesse ser restaurada.

Soraya era mais do que um eco perdido na Trama, ela era a última peça que impedia que o destino de Maerion se desfizesse completamente. Se Elenya e Alarick a encontrassem, poderiam desfazer a distorção que assombrava o reino e restaurar a história verdadeira.

No entanto, encontrar Soraya não seria uma tarefa simples. Se Maerion havia protegido sua existência, ele certamente teria ocultado qualquer vestígio dela dentro dos recessos mais profundos da realidade alterada. Ela poderia estar aprisionada em um lugar onde o tempo não fluía, onde sua consciência permanecia suspensa entre fragmentos do passado e do presente.

Os Guardiões da Trama indicaram um possível caminho: uma ruína esquecida dentro dos limites do reino distorcido, um lugar onde os fios do tempo convergiam de maneira incomum. Ali, histórias perdidas ainda sussurravam pelas paredes de pedra, e era possível sentir a presença de memórias que jamais deveriam ter persistido.

Quando Elenya e Alarick cruzaram os portões da ruína, sentiram o ar se alterar ao redor deles. Uma energia antiga vibrava naquele espaço, como se estivesse protegendo algo importante. E então, ouviram um eco, um murmúrio fraco, como se alguém estivesse chamando por eles através das sombras.

"Soraya," sussurrou Elenya.

O nome parecia ativar algo dentro da ruína. Fios de luz emergiram das paredes, revelando fragmentos de momentos há muito esquecidos: uma jovem correndo por jardins floridos, um laço quebrado entre pai e filha, uma escolha que mudara para sempre o destino do reino.

E então, no centro do salão, uma figura começou a se materializar, não totalmente real, não completamente uma sombra. Soraya estava ali, perdida entre tempos que nunca deveriam ter se entrelaçado. Seus olhos carregavam o peso de uma história que nunca fora concluída.

"Vocês vieram… mas eu não sei se ainda posso partir," ela murmurou, sua voz ecoando com profunda tristeza.

Elenya avançou, sentindo que Soraya não era apenas uma chave para restaurar o equilíbrio, ela era alguém que precisava compreender sua própria história antes que pudesse ser libertada.

Dizem que, nas noites em que o vento sopra pelas ruínas esquecidas, ainda é possível ouvir ecos de uma jovem que nunca teve a chance de decidir seu próprio destino. Mas agora, com Elenya e Alarick ao seu lado, a verdade finalmente poderia ser revelada.

Capítulo XIII: O Último Vínculo

Soraya, ainda perdida entre fragmentos de tempos esquecidos, olhava para Elenya e Alarick com hesitação. Dentro daquela ruína onde ecos do passado ainda sussurravam, algo dentro dela começava a se despertar—um reconhecimento silencioso de que sua história nunca havia sido concluída.

Mas antes que pudesse falar, um tremor percorreu o chão, como se a própria Trama se agitasse em protesto. As sombras ao redor da torre começaram a se condensar, e um frio cortante preencheu o ar.

"Ele sabe," murmurou Alarick, a mão já pousada sobre o cabo de sua lâmina.

Maerion havia sentido a perturbação. Sabia que Soraya era seu último vínculo com a realidade e que, se ela descobrisse a verdade, seu domínio sobre o reino distorcido desmoronaria.

A escuridão se ergueu no centro da sala, formando uma silhueta imponente. Não era Maerion em carne e osso, era uma extensão de sua vontade, uma sombra moldada por pura força mágica.

"Soraya," a voz reverberou, profunda e ameaçadora. "Eles te encheram de dúvidas, mas eu sou a única verdade que resta para contigo. Volte para mim. Não há outra história onde tu existas."

Elenya deu um passo à frente. "Você a manteve prisioneira entre tempos quebrados. Essa não é uma existência, é uma mentira."

A sombra se agitou, seus contornos se expandindo como um véu prestes a engolir a ruína inteira.

"A Trama jamais deveria ter apagado minha linhagem!" Maerion rugiu, sua raiva distorcendo o fluxo do tempo ao seu redor. "Se não posso alterar o destino, então destruirei tudo!"

Soraya recuou, seus olhos refletindo uma tempestade de memórias confusas, a vida que deveria ter tido, o pai que uma vez amou, o destino que nunca lhe foi permitido escolher.

"Eu... eu não sei quem sou," ela murmurou, o medo infiltrado em sua voz caudicante.

Elenya estendeu a mão para ela. "Tu és a chave para restaurar o equilíbrio. Mas a escolha é sua. Não é seu pai quem deve decidir seu destino. Nem nós. Somente contigo."

Maerion atacou. A sombra avançou como uma onda negra, tentando envolver Soraya antes que ela pudesse tomar uma decisão. Mas Alarick se interpôs, sua lâmina cruzando a escuridão, abrindo um espaço de luz entre a sombra e a jovem perdida.

"Soraya, escolha!" ele gritou, sentindo o peso da batalha se intensificar.

E naquele instante, a Trama pulsou ao redor dela. O tempo, por um breve momento, hesitou, como se aguardasse sua resposta.

Dizem que, nas noites onde o vento se agita e a escuridão ameaça as colinas de Arvendell, há um eco de um grito perdido no tempo, um chamado que poderia determinar o destino de mundos inteiros.

A névoa da ruína se agitava ao redor de Soraya, como se o próprio Véu Entre Mundos estivesse hesitante. A jovem, ainda perdida entre fragmentos de um destino não realizado, sentia o peso da decisão que precisava tomar. Se ela aceitasse a verdade, a Trama corrigiria seu curso, e Maerion desapareceria para sempre.

Mas a sombra de Maerion não recuaria tão facilmente. Sua forma pulsava como um vórtice de poder distorcido, alimentado pelo medo de Soraya. Ele sabia que se conseguisse fazer com que ela duvidasse, ainda teria uma chance de preservar sua existência.

"Não veja isso como uma prisão," sua voz ecoou pela ruína, tentando envolvê-la em sua influência. "Você não precisa desaparecer. Você pode existir ao meu lado, reconstruindo o que nos foi tirado!"

Soraya apertou os olhos, memórias quebradas pulsando em sua mente, seu pai, seu antigo lar, tudo que deveria ter sido mas nunca chegou a ser. "E se ele estiver certo?" murmurou, sua voz carregada de incerteza.

Elenya percebeu a hesitação e se aproximou. "Soraya, você não precisa seguir um destino imposto. Sua vida deve ser sua escolha, não uma sombra do passado que se recusa a partir."

A luz da Trama brilhou ao redor deles, respondendo ao conflito que se desenrolava. Se Soraya escolhesse permanecer no reino distorcido, então Maerion continuaria a existir. Mas se ela aceitasse que sua história deveria ter seguido outro curso, o Véu se fecharia e o equilíbrio seria restaurado.

Maerion sentiu o perigo em sua voz. "Você ainda pode ser livre, minha filha!" gritou, sua sombra se expandindo em um último esforço para envolvê-la.

Mas Soraya, finalmente compreendendo a verdade, ergueu o rosto e encarou o pai. "Não é liberdade quando se está preso a um passado que nunca deveria ter existido."

Com essas palavras, a ruína começou a se despedaçar. A sombra de Maerion vacilou, e o Véu Entre Mundos se agitou em resposta. O destino estava se corrigindo.

Dizem que, quando a aurora toca as colinas de Arvendell, há um momento onde a luz parece hesitar, como se uma escolha esquecida ainda ecoasse no tecido da realidade. Talvez seja a lembrança de uma filha que, por fim, decidiu seu próprio caminho.

Capítulo XIV: O Fim da Sombra

A ruína tremia enquanto a Trama corrigia seu curso, dissolvendo lentamente a sombra de Maerion. A escolha de Soraya ecoava por todo o reino distorcido, ela havia decidido se libertar, e com isso, a distorção que prendia o tempo começou a desaparecer.

"Não pode ser…" Maerion murmurou, sua voz se tornando um sussurro fragmentado. Sua existência, sustentada pela negação de um destino verdadeiro, se desfazia diante dele. Seu corpo etéreo se contorceu, tentando resistir, mas a luz da Trama era implacável.

Soraya olhou para seu pai, e pela primeira vez, viu o homem por trás da sombra, alguém que, no fundo, apenas temia o esquecimento.

"Você lutou contra o destino, mas nunca percebeu que ele não queria te apagar. Ele apenas queria que você seguisse o caminho que deveria ter sido seu."

A sombra recuou, e por um breve instante, Maerion, ou o que restava dele, sorriu com melancolia.

"Então… era isso? Eu nunca quis ser esquecido."

A Trama brilhou com intensidade, e a sombra se dissipou. O reino distorcido tremeu uma última vez antes de encontrar estabilidade. A linha do tempo verdadeira foi restaurada e está finalmente segura.

Soraya, agora liberta, respirou fundo. Seus olhos, antes confusos, estavam agora cheios de certeza. Ela olhou para Elenya e Alarick.

"Eu finalmente existo."

Dizem que, quando a noite se torna silenciosa sobre Arvendell, há um instante onde tudo parece imutável, como se o próprio destino estivesse finalmente em paz. Talvez seja o eco da escolha que restaurou o equilíbrio, um murmúrio sutil nos ventos que percorrem as colinas, um brilho efêmero nas estrelas que vigiam os viajantes noturnos.

Alguns afirmam que, se fecharem os olhos naquele momento de absoluta quietude, poderão sentir a presença de forças que uma vez desafiaram o tempo e moldaram a realidade. Outros juram que, sob a luz da lua, um reflexo quase imperceptível pode ser visto dançando sobre os lagos de águas cristalinas, um vestígio da Trama que se corrigiu, um fragmento de uma história que nunca deveria ter sido distorcida.

E há aqueles que, ao redor das fogueiras, contam que o sopro da noite carrega não apenas o silêncio do reino, mas também um eco de vozes antigas, como lamento, mas como promessa. A promessa de que aqueles que ousam desafiar o desequilíbrio nunca serão esquecidos, que todo sacrifício feito para restaurar o curso do tempo permanecerá gravado, mesmo que apenas nos corações daqueles que ainda acreditam na magia dos contos de outrora.

Capítulo XV: A Aurora da Nova Trama

O vento que soprava sobre Arvendell naquela madrugada carregava um frescor incomum, como se o próprio mundo estivesse respirando com mais leveza. Lady Elenya e Sir Alarick observavam a silhueta de Soraya, agora libertada das correntes invisíveis do passado. A jovem sentia o pulsar da Trama ao seu redor, compreendendo que sua existência, antes fragmentada e incerta, agora fluía em harmonia com o curso verdadeiro do destino.

"O que acontece agora?" Soraya perguntou, sua voz tranquila, mas repleta de novas perguntas.

Elenya sorriu com suavidade. "Agora tu decides teu caminho. Tu não estás mais presa ao passado nem ao desejo do seu pai. O mundo está aberto para você."

Soraya olhou para o horizonte, onde o primeiro brilho da aurora começava a iluminar as colinas. O reino distorcido havia desaparecido junto com Maerion, e o equilíbrio fora restaurado. Mas agora uma nova era começava, e com ela, escolhas que precisavam ser feitas.

"Eu quero conhecer esse mundo além das sombras," ela disse por fim, sua voz carregando uma certeza que antes não existia.

Alarick assentiu. "Então vá. E lembre-se: cada escolha que fizer tecerá novos fios na Trama."

Soraya se voltou para Elenya e Alarick, gratidão brilhando em seu olhar. "Vocês me deram a chance de existir. Isso nunca será esquecido."

E assim, quando o sol finalmente tocou Arvendell, Soraya partiu em sua própria jornada, deixando para trás a ruína que havia sido sua prisão e avançando rumo a um destino que, desta vez, era verdadeiramente dela.

Dizem que, quando a aurora pinta o céu de ouro e as colinas parecem brilhar com uma luz suave, pode-se sentir o eco de um novo começo, o sussurro da Trama, tecendo histórias que nunca mais serão apagadas.

Dizem que, quando a aurora pinta o céu de ouro e as colinas parecem brilhar com uma luz suave, pode-se sentir o eco de um novo começo, o sussurro da Trama, tecendo histórias que nunca mais serão apagadas.

Este instante não é apenas um amanhecer comum, mas um símbolo poderoso da renovação—um momento onde o universo respira, onde a criação se estabiliza após períodos de caos e incerteza. O dourado que toca os campos de Arvendell não é apenas luz, mas a manifestação visível da harmonia restaurada, como se o próprio tempo estivesse reconhecendo que tudo voltou ao seu curso correto.

Alguns acreditam que este brilho matinal carrega fragmentos das escolhas feitas por aqueles que desafiaram o destino. Que, nas primeiras horas do dia, os ventos ainda murmuram os nomes daqueles que ousaram enfrentar as sombras do passado e resgatar o equilíbrio. É como se, por um breve momento, a Trama deixasse escapar uma canção silenciosa, um tributo àqueles cujas decisões moldaram o fluxo do universo.

Há também aqueles que sentem que este amanhecer não apenas marca o fim de uma era antiga, mas o nascimento de histórias que jamais serão apagadas. Cada feixe de luz que dança sobre as colinas carrega possibilidades infinitas, fios novos sendo tecidos, escolhas sendo feitas, futuros sendo desenhados em um equilíbrio delicado entre o que foi e o que está por vir.

E, nos dias em que o céu se ilumina com um brilho incomum, alguns afirmam ver figuras caminhando entre a névoa matinal. Reflexos de almas que, em algum lugar além do tempo, ainda percorrem o limiar entre mundos, protegendo a continuidade da Trama e garantindo que seu legado nunca desapareça.

Capítulo XVI: Ecos de Mundos Perdidos

Enquanto a aurora iluminava Arvendell com sua luz dourada, Lady Elenya e Sir Alarick sabiam que o equilíbrio fora restaurado. Soraya havia seguido seu próprio caminho, e a distorção causada por Maerion desaparecera. No entanto, a Trama nunca permanece imóvel—o fluxo do destino é constante, e novas ramificações sempre nascem do que foi alterado.

Os Guardiões da Trama, até então silenciosos, começaram a se mover pelas linhas invisíveis do universo. Elenya e Alarick sentiram uma nova pulsação na realidade, uma mudança sutil que indicava que algo inesperado estava surgindo dos ecos deixados para trás.

"O que acontece quando um destino é reescrito?" perguntou Alarick, sentindo o peso dessa revelação.

"Nem todas as histórias apagadas desaparecem completamente," respondeu um dos Guardiões, suas palavras reverberando como um vento antigo. "Há vestígios. Sombras daquilo que foi e daquilo que quase foi. Às vezes, esses fragmentos encontram um caminho de volta."

Elenya franziu o cenho. "Você está dizendo que alguma parte da distorção ainda existe?"

"Não exatamente," respondeu o Guardião. "Mas há um novo desequilíbrio. Os ecos das histórias apagadas estão se reunindo em um lugar onde jamais deveriam existir."

Alarick olhou para Elenya, e uma compreensão profunda surgiu entre os dois. A jornada que haviam iniciado para restaurar o equilíbrio não havia terminado completamente, os ecos de mundos perdidos, fragmentos das escolhas rejeitadas, estavam se aglomerando em algum canto da realidade.

"Onde está esse lugar?" perguntou Elenya.

O Guardião apontou para o horizonte, onde uma nova luz tremeluzia entre as montanhas distantes. "Além das fronteiras do mundo conhecido, onde o tempo hesita e a realidade se refaz. Esse é o seu próximo destino."

Dizem que, quando a aurora toca Arvendell e as sombras se dispersam, há aqueles que acreditam que não é o fim de uma história, mas apenas o começo de outra. Porque no tecido do universo, nem todo eco se dissipa, alguns encontram novos caminhos, novas existências, e moldam o mundo de formas nunca antes vistas.

Capítulo XVII: O Reino do Reflexo

Além das fronteiras do mundo conhecido, onde o tempo hesita e a realidade se refaz, existe um reino que não deveria existir, um espaço onde os ecos das histórias apagadas se reuniram, tecendo uma nova existência a partir do que foi perdido. Este lugar, conhecido como Eredh'lan, não figura nos mapas nem nas memórias dos que caminham por Arvendell. Suas terras são um reflexo do que deveria ter sido, do que nunca chegou a acontecer. 

E do que a Trama quase permitiu existir. Aqui, fragmentos de reinos esquecidos se fundem em uma paisagem que desafia a lógica, torres despedaçadas que se reconstroem sob a luz de um sol fragmentado, mares que não seguem um único curso, mas oscilam entre o passado e o futuro, florestas onde cada folha carrega um sussurro de um destino que nunca foi concluído.

No coração de Eredh'lan, há um grande espelho cristalino que pulsa com luz incandescente. O Véu Espectral, como é chamado pelos poucos que ousaram falar sobre ele, é o centro deste domínio, um reflexo vivo do que foi descartado pelo universo. Nele, aqueles que observam atentamente podem enxergar os rostos de almas que poderiam ter existido, mas foram apagadas pelo curso natural da trama.

Os Guardiões da Trama observam Eredh'lan com cautela. Nunca foi previsto que esse reino surgisse, nunca deveria ter sido possível que ecos rejeitados encontrassem um lar. Mas agora, ele existe, e com ele, novas perguntas.

Elenya e Alarick contemplam sua paisagem pela primeira vez, sentindo a estranha familiaridade das energias que fluem ali. Cada passo que dão os faz questionar: será que este reino é apenas um reflexo, ou será que os ecos que o compõem desejam mais do que uma lembrança?

Dizem que, quando a noite cobre Arvendell e o silêncio reina absoluto, alguns sonhadores sentem uma presença distante, não um chamado do passado, mas um murmúrio de um lugar onde tudo que foi esquecido encontrou nova forma.

Capítulo XVIII: O Véu Espectral e As Vozes Perdidas

Eredh'lan pulsava com uma energia única, não viva, mas também não esquecida. O reino que nunca deveria existir exibia seus próprios mistérios, suas próprias regras, e Elenya e Alarick sentiam o peso de cada passo. Diferente de qualquer terra que haviam cruzado, aqui o tempo não seguia um único fluxo, mas oscilava entre vestígios do passado e possibilidades do futuro.

O Véu Espectral, no coração do reino, parecia respirar. Seu cristal líquido refletia imagens que não pertenciam a uma única era, mas a várias histórias esquecidas. Não eram apenas sombras de pessoas apagadas pela Trama, eram consciências fragmentadas, memórias que buscavam um propósito.

"Nós estamos realmente sozinhos aqui?" perguntou Alarick, observando como a névoa ao redor da paisagem se movia de maneira sutil, quase como se seguisse seus pensamentos.

Elenya sentiu um arrepio percorrer sua pele. "Não sozinhos, mas também não acompanhados. Há presenças aqui, não de corpos, mas de ecos que tentam encontrar um novo significado."

Mas não era apenas a existência desses ecos que os preocupava. Havia algo na atmosfera de Eredh'lan, um perigo silencioso, uma tensão não resolvida que mantinha o reino em um estado de instabilidade. Algo ali queria existir plenamente, não apenas como reflexo, mas como uma presença concreta no mundo.

E então, o Véu Espectral brilhou, e suas superfícies começaram a mostrar imagens mais intensas.

Eles viram fragmentos de realidades alternativas, possibilidades que nunca se concretizaram:

  • Uma versão de Arvendell onde Lady Elenya nunca quebrou a maldição e a terra permaneceu em trevas.
  • Um cenário onde Sir Alarick caiu em batalha antes de se tornar um Guardião da Trama.
  • Um destino onde Soraya aceitou o chamado de Maerion e moldou um reino de sombras.

"Essas histórias… são o que poderia ter sido," murmurou Alarick, seus olhos fixos no Véu.

"Ou o que ainda pode acontecer se este reino encontrar um caminho de volta ao mundo real," completou Elenya, sua voz grave.

E assim, compreenderam o perigo real de Eredh'lan. Se os ecos esquecidos encontrassem uma forma de se materializar, poderiam reescrever a Trama e alterar o equilíbrio da realidade.

Dizem que, nas noites onde o céu se ilumina com tons incomuns sobre Arvendell, aqueles que observam com atenção podem sentir uma inquietação no ar, como se uma realidade oculta estivesse tentando se manifestar.

Esse fenômeno ocorre nos momentos em que a Trama hesita, como se antigos ecos tentassem encontrar um caminho de volta ao mundo real. O céu, geralmente sereno e imutável, ganha tonalidades que não pertencem às estrelas de Arvendell, reflexos dourados que vibram no horizonte, faixas de luz prateadas que se movem como ondas no tecido do universo.

Os estudiosos da Trama chamam esse efeito de "O Brilho do Véu", acreditando que é uma interferência provocada por Eredh'lan. Os ecos que residem naquele reino perdido podem, ocasionalmente, alcançar os limites do mundo conhecido, buscando uma fissura, uma oportunidade para emergir. 

Alguns afirmam que, em noites particularmente silenciosas, é possível ouvir murmúrios carregados pelo vento, sussurros de histórias que nunca se concretizaram, nomes de pessoas que deveriam ter existido, mas que foram apagadas pelo fluxo correto do destino.

Os mais sensíveis a essa energia descrevem uma sensação peculiar, uma presença invisível que parece se esgueirar pelas sombras, como se algo observasse o mundo real de longe, esperando seu momento para atravessar o Véu. Outros acreditam que, quando a luz do céu se altera de forma intensa, é porque um novo desequilíbrio está prestes a surgir, um sinal de que a Trama está prestes a ser desafiada mais uma vez.

Dizem que, nas noites em que esse fenômeno ocorre, alguns viajantes sentem uma inquietação inexplicável, como se o próprio universo estivesse segurando a respiração, temendo que algo inesperado pudesse acontecer. Porque, no tecido do destino, nem todos os ecos permanecem presos para sempre, alguns ainda procuram uma forma de escapar.

Capítulo XIX: As Sombras Entre Mundos

Eredh'lan não era apenas um reino perdido, era uma convergência de histórias apagadas, um espaço onde fragmentos de realidades rejeitadas tentavam encontrar uma forma de existir. E alguns desses fragmentos não estavam satisfeitos com a limitação de serem apenas ecos.

Nos limites do Véu Espectral, onde a energia da Trama vibrava com maior intensidade, as Sombras Entre Mundos começavam a se manifestar. Eram presenças incompletas, seres que outrora fizeram parte da história verdadeira, mas foram apagados quando o destino corrigiu seus erros. No entanto, a existência negada gera um desejo insaciável, e as Sombras, moldadas por esse desejo, buscavam uma maneira de cruzar o Véu e reclamar uma nova realidade para si.

Elenya e Alarick sentiram sua presença antes mesmo de vê-los. O ar tornou-se pesado, e a luz ao redor do Véu Espectral começou a distorcer-se, como se algo estivesse forçando sua passagem entre os mundos.

"Eles não deveriam estar aqui," murmurou Alarick, sua mão sobre o cabo da lâmina, sentindo o peso da ameaça.

"Não são apenas ecos," completou Elenya, seus olhos fixos nas sombras que se materializavam. "Eles estão tentando se tornar reais."

As Sombras moviam-se como silhuetas distorcidas, cada uma carregando traços de uma vida que nunca existiu plenamente. Algumas vestiam trajes de reis e rainhas que nunca governaram, outras carregavam armas de guerreiros que jamais lutaram. Mas havia algo mais terrível nelas: quanto mais tempo passavam próximas ao Véu, mais sólidas pareciam se tornar.

Os Guardiões da Trama observavam de longe, suas presenças reluzindo como vigias eternos.

"Se elas cruzarem completamente," disse um dos Guardiões, "não serão apenas ecos… serão entidades reais, mas sem propósito próprio. Fragmentos de histórias sem direção, corrompidos pela vontade de existir."

Elenya compreendeu o perigo. Essas criaturas não eram apenas presenças apagadas, se encontrassem uma forma de estabilizar sua existência, poderiam modificar o destino, remodelando Arvendell e os mundos ao redor conforme seus desejos distorcidos.

Alarick apertou sua lâmina. "Então não podemos permitir que cruzem." Mas como impedir algo que não pertence completamente a este mundo?

Dizem que, nas noites onde o vento se agita de forma incomum sobre Arvendell, aqueles que caminham sozinhos sentem uma presença invisível à espreita, um chamado silencioso de sombras que buscam um caminho de volta ao mundo real.

Os antigos contam que, quando a brisa sopra de maneira irregular pelas colinas, não é apenas o vento que se move, mas algo mais profundo, fragmentos de histórias nunca concretizadas, resquícios de vidas que deveriam ter sido e que agora vagam à margem da existência. Esses ecos não possuem corpos, nem rostos definidos, mas sua presença pode ser sentida por aqueles que são sensíveis à Trama.

Viajantes solitários relatam sensações estranhas ao atravessar certos caminhos ao anoitecer. Um arrepio súbito, uma oscilação na própria percepção do espaço ao redor. Alguns afirmam ouvir sussurros, palavras indecifráveis que se misturam ao vento, como se vozes esquecidas tentassem se comunicar através dos véus da realidade. Os estudiosos acreditam que essas sombras provêm de Eredh'lan, o reino onde os ecos do enredo se acumulam.

Quando a energia daquele lugar se torna instável, suas presenças se intensificam e se aproximam da barreira que separa os mundos. Há lendas que dizem que, em noites de lua oculta, alguns desses fragmentos conseguem atravessar, manifestando-se por breves instantes antes de serem arrastados de volta ao Véu.

Mas os Guardiões da Trama alertam que não são apenas ilusões passageiras. Algumas dessas presenças não buscam apenas existir, mas reivindicar um lugar no mundo real. Se uma fissura na Trama for aberta, não será apenas um sussurro no vento, será uma presença tangível, capaz de remodelar a realidade e alterar o curso da história.

Dizem que, em certas noites, ao olhar para as colinas de Arvendell, pode-se ver sombras sem origem, movendo-se contra o fluxo do vento. Elas não pertencem ao presente nem ao passado, apenas ao limiar incerto entre mundos.

Capítulo XX: Quando as Sombras Encontram o Caminho

Eredh'lan pulsava com uma energia inquietante, e as Sombras Entre Mundos começavam a se reunir ao redor do Véu Espectral com intensidade crescente. Seus contornos, antes nebulosos e indistintos, estavam adquirindo forma, não mais apenas ecos dispersos, mas entidades que aprendiam à existir.

A cada instante que passava, as Sombras absorviam fragmentos da narrativa, alimentando-se da energia residual das histórias apagadas. Algumas começaram a tomar formas mais definidas, rostos distorcidos, olhos sem luz, mãos que se estendiam para um mundo que ainda não era seu.

Elenya e Alarick sentiram o perigo antes de vê-lo. A realidade ao redor do Véu começou a oscilar, como se um novo limiar estivesse prestes a se abrir. Se as Sombras atravessassem, não seriam apenas presenças passageiras, mas forças que poderiam influenciar o destino e remodelá-lo à sua própria vontade.

Os Guardiões da Trama observaram com cautela, suas presenças vibrando como sentinelas de um equilíbrio frágil.

"Elas estão tentando estabilizar-se," alertou um dos Guardiões. "Se conseguirem, poderão moldar suas próprias histórias e modificar a Trama."

Elenya compreendeu o que isso significava. Se essas sombras adquirissem existência própria, poderiam reivindicar lugares na realidade verdadeira, apagando vidas e alterando eventos já consolidados. Um rei que nunca governou poderia ressurgir, uma guerra esquecida poderia ser travada novamente, e Arvendell poderia perder o próprio curso de sua história.

"Como as detemos?" Alarick perguntou, sua lâmina já preparada.

"O Véu ainda as mantém frágeis," respondeu um dos Guardiões. "Mas se encontrarem um elo com o mundo real, conseguirão atravessar por completo."

E foi então que Elenya percebeu o verdadeiro perigo. Elas precisavam de um vínculo, alguém ou algo no mundo real que as aceitasse, que acreditasse nelas, que desejasse seu retorno.

As Sombras começaram a murmurar, suas vozes dispersas no vento. Promessas veladas, sussurros de destinos não realizados. Buscavam alguém que as acolhesse, que as invocasse. Se encontrassem um coração vulnerável o suficiente para aceitar sua existência, poderiam forçar sua passagem definitiva.

"O maior perigo não é apenas a força delas," disse Elenya, a voz sombria. "É a tentação que representam."

Dizem que, nas noites em que a Trama hesita, há sonhos que parecem mais reais do que deveriam, visões de mundos que nunca existiram, vozes que sussurram promessas no escuro. Porque às vezes, um único desejo pode ser o portal para algo que jamais deveria cruzar para este mundo.

O anseio por algo perdido, a saudade de um momento nunca vivido, ou a busca desesperada por uma segunda chance podem abrir fendas na realidade, tornando-se portas para forças que deveriam permanecer esquecidas. Histórias rejeitadas pelo entrecho, não desaparecem por completo, algumas permanecem à espreita, esperando apenas uma mente vulnerável o suficiente para aceitá-las.

E é nos momentos de maior fraqueza que essas presenças sussurram mais alto. Um pensamento solitário sob a luz difusa da lua, uma prece silenciosa na escuridão, um juramento feito sem plena consciência das consequências. O Véu Entre Mundos não exige rituais complexos para ser tocado, basta um coração receptivo, um desejo intenso o suficiente para ser ouvido pelos ecos do que foi esquecido.

Alguns afirmam que, em noites onde o vento carrega murmúrios indecifráveis, há algo que responde ao chamado daqueles que anseiam por um destino diferente. Talvez seja apenas a imaginação, talvez seja apenas o fluxo natural do tempo. Mas há quem diga que certos desejos não desaparecem, e sim aguardam, moldando-se em silêncio, esperando por sua chance de emergir.

Eles se alojam nos espaços entre pensamentos, nas sombras de lembranças inacabadas, nos suspiros que nunca encontram palavras. São como sementes ocultas, adormecidas sob a terra do tempo, nutrindo-se de emoções não resolvidas e do anseio por algo que jamais veio a ser.

E então, há noites em que o véu entre os mundos enfraquece, onde o vento sopra de maneira diferente, carregando murmúrios esquecidos. É nesses momentos que certos desejos encontram uma fissura, uma brecha pela qual podem deslizar, tomando forma, buscando existência. 

Para aqueles que os abrigam em sua alma, o chamado pode ser irresistível. Um pensamento insistente, uma sensação de que algo perdido está ao alcance, como se bastasse estender a mão para recuperar o que foi negado pelo destino.

Mas o que acontece quando um desejo há muito reprimido finalmente encontra um caminho para emergir? Será ele um reflexo benigno de um sonho esquecido, ou uma força moldada pela ausência, distorcida pela negação?

Dizem que há noites em Arvendell em que as luzes das estrelas parecem vacilar, como se algo além do tempo estivesse tentando se afirmar, tentando ser lembrado. E para aqueles que caminham sozinhos sob o céu incerto, talvez um eco perdido possa encontrá-los, uma voz que nunca deveria ter existido, mas que, finalmente, encontrou alguém disposto a escutá-la.

Capítulo XXI: Os Marcados Pelo Véu

Nem todos os que caminham por Arvendell escaparam ilesos dos ecos esquecidos. Alguns ouviram os sussurros que atravessaram o vento, sentiram a presença das sombras que desejavam existir, e, consciente ou inconscientemente, responderam ao chamado. Estes são os Marcados Pelo Véu, aqueles cuja essência foi tocada pelas histórias rejeitadas, carregando fragmentos de destinos que nunca deveriam ter sido.

1. Kael, O Vigia das Sombras

Kael foi um guerreiro de Arvendell que, em outra linha do tempo, deveria ter perecido em batalha antes de se tornar um protetor do reino. Mas quando a Trama se ajustou, seu destino foi corrigido, e ele sobreviveu… ainda assim, algo do que foi apagado permaneceu em sua alma.

Ele sente os ecos das Sombras Entre Mundos, percebe quando algo tenta atravessar o Véu. Às vezes, vê rostos que nunca existiram e sente lembranças de eventos que jamais ocorreram. Os Guardiões da Trama o observam com cautela, sabendo que sua conexão com as sombras poderia ser tanto uma bênção quanto um perigo.

2. Lysara, A Portadora dos Sussurros

Desde a infância, Lysara sempre sentiu que havia vozes na escuridão, sussurros suaves que a chamavam, promessas de caminhos que nunca foram trilhados. Ela não entende completamente sua ligação com Eredh'lan, mas sabe que pode ouvir os ecos dos mundos esquecidos melhores do que qualquer outro.

Há aqueles que a temem, dizendo que sua presença atrai os fragmentos que buscam existência. Outros acreditam que ela é a chave para compreender os fenômenos que cercam o Véu. Mas a verdade é que, se Lysara um dia responder a um desses sussurros da maneira errada, pode acabar abrindo uma brecha definitiva entre os mundos.

3. O Ceifador Sem Nome

Uma figura que aparece em momentos onde o Véu está instável. Alguns acreditam que ele foi uma alma perdida, apagada pela Trama, mas que encontrou um jeito de voltar sem ser completamente percebido.

Ele caminha entre as fronteiras da existência e da memória, observando aqueles que foram tocados pelo Véu. Seu propósito permanece um mistério: seria ele um guardião contra os ecos que buscam invadir a realidade, ou o próprio instrumento da travessia final das Sombras Entre Mundos?

Dizem que, em certas noites, quando o brilho das estrelas hesita e o silêncio parece mais profundo, os Marcados Pelo Véu sentem algo diferente no ar, um chamado que nunca desaparece, uma promessa que aguarda apenas um instante de fraqueza para se concretizar.

Capítulo XXII: O Juramento dos Marcados

Elenya e Alarick sabiam que os Marcados Pelo Véu não eram apenas vítimas das Sombras Entre Mundos, mas peças fundamentais no equilíbrio da Trama. Cada um deles carregava fragmentos de histórias apagadas, ecos de realidades que nunca deveriam ter existido. Mas agora, com o Véu Espectral se tornando instável e as Sombras cada vez mais fortes, era preciso decidir se essas presenças seriam aliadas ou ameaças.

A Revelação e o Chamado

Kael, O Vigia das Sombras, sentiu o vento mudar antes mesmo de ver a aurora tocar Arvendell. Ele sabia que os ecos estavam se movendo, que algo tentava atravessar a realidade. Seu vínculo com o Véu permitia que ele sentisse essas distorções, mas pela primeira vez, não era um murmúrio passageiro, era um chamado direto.

Lysara, A Portadora dos Sussurros, percebeu que os sussurros que a acompanharam por toda a vida estavam se tornando mais intensos. Antes, eram apenas ecos que ela tentava ignorar. Agora, as vozes carregavam pedidos, urgências, avisos. Alguém, ou algo, queria ser ouvido, e ela era o único canal para essa comunicação.

O Ceifador Sem Nome surgiu na escuridão da floresta. Seu semblante sempre ausente parecia mais presente do que nunca. Ele não falou, mas sua chegada significava apenas uma coisa: a Trama estava prestes a enfrentar uma ruptura definitiva.

A Escolha e o Juramento

Elenya e Alarick reuniram os três Marcados diante do Véu Espectral. O equilíbrio do universo repousava sobre aquela noite.

"Vocês têm um papel na Trama," disse Elenya, sua voz carregada de certeza. "Mas precisam decidir qual será."

"Se aceitarem o chamado, terão de enfrentar os ecos que tentam escapar," completou Alarick. "Mas se recusarem, a realidade poderá ser moldada sem qualquer resistência."

Kael ergueu sua lâmina e declarou: "Eu vigiarei as sombras e impedirei que atravessem."

Lysara respirou fundo e assentiu: "Eu ouvirei os ecos e decifrarei suas intenções."

O Ceifador Sem Nome não falou, mas seu olhar era a resposta, ele não recusaria seu papel na batalha que estava prestes a começar.

Assim, os Marcados Pelo Véu aceitaram seu juramento. Agora, eram os primeiros defensores contra as forças que buscavam modificar a realidade.

Dizem que, em certas noites, quando o céu oscila entre luz e escuridão, as sombras hesitam antes de atravessar. Talvez porque, em algum lugar entre mundos, os Marcados vigiam, escutam e protegem a Trama contra aquilo que nunca deveria ter existido.

Capítulo XXIII: A Travessia Sombria

A noite sobre Arvendell estava incomumente densa, como se o próprio tempo hesitasse antes de avançar. A aurora parecia distante, e os ventos carregavam um silêncio inquietante, o presságio de uma perturbação na Trama.

Os Marcados Pelo Véu sentiram o chamado antes mesmo de os Guardiões confirmarem a ameaça. O Véu Espectral tremulava, e algo do outro lado buscava atravessar. Mas desta vez, não era apenas um eco disperso. Uma entidade havia encontrado um vínculo com o mundo real.

O Chamado e a Escolha

Kael, Lysara e o Ceifador Sem Nome se reuniram nos limites do Véu. A paisagem ao redor oscilava entre fragmentos de passado e possibilidades futuras, mas no centro da energia, um único ponto de luz negra pulsava, uma brecha sendo aberta.

"Este não é um mero eco," murmurou Kael, observando a distorção na Trama.

"Alguém no mundo real está querendo que isso aconteça," completou Lysara, sentindo os sussurros que percorriam os fios invisíveis da realidade.

Os Guardiões confirmaram o pior: um habitante de Arvendell, consciente ou inconscientemente, havia acolhido o chamado das Sombras Entre Mundos e oferecido um caminho para sua travessia.

"Se a sombra se estabilizar, ela poderá moldar sua própria existência," alertou um dos Guardiões. "E se isso acontecer, o destino pode ser distorcido para sempre."

Era a primeira missão dos Marcados: interromper a travessia antes que a entidade cruzasse completamente e alterasse a realidade e transformasse a localidade em trevas.

O Confronto no Véu

As Sombras começaram a se condensar ao redor do portal em formação. Algo estava emergindo, não apenas uma presença, mas uma figura definida, moldada pelo desejo que a invocara.

Kael avançou primeiro, sua lâmina reluzindo entre as energias instáveis do Véu. Ele sabia que não poderia destruir a sombra com força física, mas precisava impedir que ela encontrasse estabilidade.

Lysara, ouvindo os murmúrios ao redor, tentou decifrar a origem do vínculo. Quem, em Arvendell, estava permitindo que essa entidade cruzasse?

O Ceifador Sem Nome simplesmente observava, seus olhos fixos na distorção.

"Se quisermos impedir sua travessia, precisamos cortar seu vínculo com o mundo real," disse Lysara.

Mas havia um problema. Se a pessoa que invocou essa sombra não rompesse seu desejo voluntariamente, a entidade encontraria uma maneira de existir.

O tempo estava se esgotando. Dizem que, em noites onde o Véu se torna instável, há momentos onde o destino pende por um fio, e que, se não for protegido, pode mudar para sempre.

Essas noites não chegam sem aviso. Os ventos se agitam de maneira irregular, como se carregassem murmúrios esquecidos, e a luz das estrelas vacila, refletindo uma inquietação que não pertence à ordem natural do mundo. Os Guardiões do enredo percebem esses sinais antes dos outros, sentindo as pulsações no fluxo do tempo e as distorções que ameaçam os fios do destino.

Mas há algo mais perigoso do que as próprias Sombras Entre Mundos: os chamados que as trazem. Elas não podem atravessar sozinhas, e é por isso que esperam pacientemente, não apenas por um véu enfraquecido, mas por uma vontade no mundo real que as acolha.

Nem todos que invocam as sombras entendem o que fazem. Alguns as chamam em busca de respostas, tentando recuperar algo que perderam. Outros são levados pelo desespero, agarrando-se à promessa de reescrever sua própria história. E há aqueles que desejam poder, acreditando que, ao conceder espaço a um eco perdido, podem moldar a realidade à sua vontade.

Se a travessia for bem-sucedida, o destino pode ser desviado para sempre. A entidade que cruzar o Véu poderá se tornar parte do mundo real, apagando vidas, alterando eventos e distorcendo a continuidade da Trama. E quanto mais tempo permanecer, mais forte se tornará, moldando seu próprio propósito e sua própria existência.

Dizem que, em certas noites onde o silêncio é profundo demais, há um instante em que o ar parece hesitar, como se o próprio universo aguardasse para ver se uma decisão será tomada, se uma sombra encontrará passagem ou se será contida antes que mude para sempre o curso do mundo.

Capítulo XXIV: O Eco Que Chamou As Sombras

A Trama não se altera sozinha. O Véu Entre Mundos pode enfraquecer com o tempo, mas para que uma sombra atravesse completamente, é preciso que alguém no mundo real a invoque, seja por desejo consciente ou por um anseio oculto que, sem perceber, abre caminho para aquilo que nunca deveria existir.

Os Guardiões da Trama sentiram a ruptura antes mesmo de identificar sua origem. Alguém em Arvendell havia chamado a entidade, oferecendo-lhe um vínculo com o mundo real. Se não impedissem essa conexão, a sombra não seria apenas um eco passageiro, mas uma presença estável capaz de modificar o curso da realidade.

O Chamado Perdido

Lysara foi a primeira a sentir o nome pulsar no Véu. Entre os murmúrios dispersos, uma única voz ecoava com mais força, vibrando nas linhas invisíveis que conectavam Eredh'lan a Arvendell.

"Alguém está pedindo por algo que foi perdido," disse ela, sua expressão sombria.

Kael franziu o cenho. "Quem chamaria uma sombra? Apenas aqueles que desejam um futuro diferente ou querem recuperar algo do passado."

Os Guardiões começaram a rastrear os fragmentos do chamado, observando os pontos onde a Trama hesitava. E foi assim que encontraram Elian, um jovem estudioso da história de Arvendell, alguém que havia perdido algo há muito tempo e nunca conseguiu aceitar seu destino.

O Motivo Oculto

Elian não era um feiticeiro, nem um conspirador, mas alguém que carregava um desejo profundo e inconsciente de recuperar o que lhe foi negado. Ele perdera sua irmã Aeris quando ainda era criança, em um acidente que ninguém pôde impedir. Para a Trama, sua morte era um evento consolidado, algo que jamais poderia ser desfeito.

Mas para Elian, essa história nunca foi concluída. Em suas pesquisas sobre Eredh'lan, ele descobriu que existiam ecos de vidas não vividas, destinos que nunca chegaram a acontecer. E em algum momento, mesmo sem perceber, ele começou a desejar, não apenas lembrar de Aeris, mas chamá-la de volta.

"Se ela ainda existir em alguma parte do Véu," murmurara ele em noites solitárias, "não deveria poder voltar?"

Seu desejo, sustentado por anos de saudade, formou um vínculo com os ecos perdidos de Eredh'lan. As Sombras Entre Mundos sentiram esse chamado e começaram a responder. Aeris poderia estar entre elas, ou talvez fosse apenas uma ilusão moldada pela ausência. Mas se sua sombra atravessasse completamente, sua existência poderia apagar outras vidas ou distorcer a linha do tempo.

A Decisão

Agora, os Marcados Pelo Véu sabiam quem havia feito o chamado e por quê. Mas impedir a travessia não seria tão simples, eles precisavam convencer Elian a romper seu vínculo, a aceitar que sua irmã não deveria voltar.

O problema era que, agora que a sombra se formava, ela poderia falar. E se Aeris, ou aquilo que tomava sua forma, conseguisse convencer Elian de que deveria existir… então a história verdadeira poderia ser alterada para sempre.

Dizem que, nas noites onde a saudade se torna um eco que atravessa o tempo, há aqueles que sentem presenças que nunca deveriam estar ali, não como lembranças, mas como promessas perigosas do que poderia ter sido.

Capítulo XXV: A Ilusão do Passado

Elian permaneceu diante do Véu Espectral, sua respiração irregular, o coração preso entre o medo e a esperança. A sombra que emergia diante dele tinha forma, voz, presença e acima de tudo, carregava o semblante de sua irmã, Aeris.

"Elian…" O som de seu nome vindo daquela figura quase desfez qualquer hesitação que pudesse ter. A voz era doce, exatamente como ele se lembrava, carregada de saudade e de um amor fraterno que nunca deveria ter desaparecido.

Os Marcados Pelo Véu observavam com cautela. Lysara sentia os ecos vibrando ao redor da sombra, um fluxo irregular de energia que não pertencia a uma única existência. Kael manteve-se próximo, sua lâmina pronta, pois sabia que a Trama poderia ser alterada se Elian cedesse. O Ceifador Sem Nome apenas observava, como se estivesse esperando o desfecho inevitável.

"Eu sabia que Tu virias," disse a sombra, sua voz carregada de melancolia. "Eu estive aqui, esperando, Elian. Não devia ter partido… Não devia ter te deixado sozinho."

Elian deu um passo à frente, e Lysara sentiu a Trama estremecer. Se ele aceitasse aquela sombra como Aeris, o Véu poderia se abrir completamente, e ela se tornaria parte do mundo real.

"Isso não pode ser ela," murmurou Lysara, tentando conter sua inquietação.

Kael estreitou os olhos. "O problema não é só o que ela é, mas o que ele quer que ela seja."

"Aeris morreu," disse Lysara, sua voz tentando alcançar Elian. "O que está diante de ti não é sua irmã. É um eco moldado pelo seu desejo de trazê-la de volta."

Mas Elian não queria acreditar. Seus olhos estavam fixos na figura à sua frente, na sombra que vestia o rosto de alguém que ele perdera para sempre.

"Por que eu não poderia ter outra chance?" ele sussurrou, sua voz trêmula. "Por que o destino decidiu que ela não deveria existir?"

A sombra sorriu. "Não precisa ser assim. Você pode me trazer de volta. Basta aceitar… Basta me chamar, Elian."

As Sombras Entre Mundos esperavam por esse momento, pela aceitação, pelo vínculo definitivo que permitiria que uma entidade rejeitada se estabilizasse no mundo real.

Lysara sentiu o perigo. A Trama pulsava ao redor deles, os ecos vibravam com intensidade crescente. Se Elian cedesse completamente, o Véu seria aberto e a sombra de Aeris se tornaria real, alterando a história verdadeira.

"Elian, escute," disse Kael. "Se Tu a aceitares, o mundo muda. Alguém pode ser apagado para que ela exista. O equilíbrio da Trama não permite que um eco atravesse sem consequências."

O Ceifador Sem Nome finalmente se moveu, sua presença tornando-se mais definida.

"Escolha," disse ele, sua voz reverberando como um ultimato entre os mundos.

O silêncio tomou conta do Véu Espectral. Aeris, ou o que quer que estivesse diante de Elian, aguardava sua resposta.

Dizem que, quando o Véu se enfraquece, há momentos em que a história verdadeira pode ser desafiada, todavia era  apenas pela vontade daqueles que ousam chamar algo que nunca deveria ter existido.

Capítulo XXVI: O Amanhecer da Verdade

O Véu Espectral tremulou uma última vez antes de se estabilizar, e a sombra que carregava o semblante de Aeris desvaneceu. Elian, com o coração apertado, havia tomado sua decisão.

"Eu te amo, Aeris," ele murmurou, sua voz carregada de dor e aceitação. "Mas você já cumpriu sua história, e eu preciso seguir a minha."

Com essas palavras, o vínculo se rompeu, e as Sombras Entre Mundos recuaram, derrotadas pela força da verdade. A Trama pulsou em resposta, reconhecendo a escolha de Elian e restaurando o equilíbrio do universo.

Os Marcados Pelo Véu observaram a aurora que começava a despontar sobre Arvendell. Kael sentiu que, pela primeira vez, o peso dos ecos havia diminuído. Lysara compreendeu que as vozes que antes sussurravam estavam finalmente em silêncio. O Ceifador Sem Nome, sem palavra alguma, caminhou para longe, desaparecendo na névoa como se seu papel naquele momento estivesse cumprido.

Elenya e Alarick se aproximaram de Elian, que observava o horizonte com lágrimas nos olhos.

"Ela sempre estará comigo," ele disse, sua voz tranquila.

Elenya assentiu. "Não é preciso que ela exista novamente para que seja lembrada. A Trama guarda todas as histórias, mesmo aquelas que chegaram ao fim."

Naquela manhã, o mundo permaneceu intacto, e Arvendell floresceu sob a luz dourada do sol. A Trama estava segura, e o equilíbrio havia sido restaurado.

Dizem que, quando a aurora toca as terras de Arvendell, há um instante em que o tempo parece suspender sua marcha, não porque hesita, mas porque reconhece as escolhas feitas, os destinos respeitados e a paz alcançada.

O Véu Entre Mundos ainda existe, e os Marcados ainda vigiam suas bordas, garantindo que nenhuma sombra perdida possa alterar aquilo que deve permanecer verdadeiro. Mas naquela manhã, entre as brisas suaves e a luz dourada, tudo estava exatamente como deveria ser. E, finalmente, Arvendell pôde seguir seu curso. 

O Legado de Arvendell

Com a primeira luz da manhã cobrindo os campos dourados de Arvendell, o Véu Espectral permaneceu intacto, protegido contra as sombras que buscavam atravessar. O equilíbrio fora restaurado, mas seus ecos permaneceriam por muito tempo, como lembranças gravadas no próprio tecido da Trama.

Elian, agora livre do peso do desejo que quase alterou a realidade, tornou-se um estudioso da Trama. Ele dedicou sua vida a compreender os fragmentos que se acumulam entre mundos e a ensinar aos habitantes de Arvendell sobre a natureza das escolhas e o perigo de desafiar o destino. Seus escritos foram preservados, e seu nome passou a ser lembrado como o guardião da verdade, aquele que enfrentou sua maior tentação e, por fim, aceitou a realidade como ela deveria ser.

Os Marcados Pelo Véu permaneceram como sentinelas da fronteira entre mundos. Kael aprimorou sua habilidade de rastrear as distorções na Trama, protegendo Arvendell contra futuros desequilíbrios. Lysara aceitou sua natureza como intérprete dos ecos, garantindo que nunca mais fossem usados como ferramentas de manipulação. E o Ceifador Sem Nome, sempre presente mas nunca reivindicando um lugar fixo no mundo, continuou a vigiar as histórias que tentavam se reescrever.

Os Guardiões da Trama retornaram ao fluxo invisível que mantém o equilíbrio do universo, mas deixaram um aviso aos sábios de Arvendell: os ecos nunca desaparecem completamente, apenas adormecem. E um dia, quando o véu novamente hesitar, novos desafios poderão surgir.

A Lenda do Véu

Com o passar dos anos, Arvendell floresceu. As sombras do passado tornaram-se histórias contadas ao redor das fogueiras, e o nome de Soraya, Elenya e Alarick tornou-se parte do legado do reino. O Véu Espectral permaneceu selado, e aqueles que caminhavam pelas colinas douradas o observavam com respeito, sabendo que sua força repousava sobre escolhas feitas por aqueles que ousaram desafiar os ecos.

Dizem que, nas noites onde o vento sopra suavemente e o céu brilha em tons dourados, os habitantes de Arvendell podem sentir uma paz indescritível, não a ausência de perigo, mas a certeza de que o destino foi protegido por aqueles que compreenderam que algumas histórias devem permanecer apenas como memórias.

Talvez, em algum tempo distante, novos desafios surjam. Mas naquela manhã, enquanto os raios de sol iluminavam as terras que quase foram alteradas, Arvendell permaneceu intocada, e a Trama fluiu como deveria.

Porque, no fim, o verdadeiro poder do destino não está em reescrevê-lo, mas em aceitá-lo como ele deve ser.

A Herança dos Ecos Perdidos

Décadas passaram desde a última ruptura do Véu, e Arvendell floresceu em paz. Os registros sobre a Trama e os eventos que moldaram seu equilíbrio tornaram-se parte das tradições do reino, e a existência dos Marcados Pelo Véu foi preservada na memória coletiva, como protetores silenciosos contra as sombras que tentavam cruzar para o mundo real.

Mas mesmo os ecos que permaneceram adormecidos nunca desapareceram completamente. No coração de Eredh'lan, os fragmentos das histórias apagadas continuavam a pulsar, reunindo-se em um novo fluxo que ninguém previa. E foi assim que, sem aviso, uma nova presença surgiu entre os limites do Véu, uma criança que jamais deveria ter existido.

Seu nome era Althir, e, ao contrário das Sombras Entre Mundos que buscavam atravessar pela força, ele não veio como uma ameaça. Ele simplesmente existia, sem origem, sem passado, e ainda assim, sem pertencer ao fluxo verdadeiro da Trama.

A Criança Sem Passado

Althir foi encontrado por viajantes que exploravam as fronteiras de Arvendell. Seu olhar refletia fragmentos de realidades que não deveriam ter sido, e sua presença gerava uma sensação de instabilidade no espaço ao seu redor.

Os estudiosos da Trama ficaram perplexos. Nunca antes um ser com consciência própria havia atravessado sem distorcer a realidade. Ele não moldava o destino ao seu redor, mas também não pertencia inteiramente ao mundo.

"Se ele não deveria existir, por que a Trama o permitiu?" perguntou Lysara, agora uma guardiã respeitada dos ecos.

Os Guardiões observaram e sentiram algo diferente nele. Althir não era uma sombra perdida tentando assumir um lugar na realidade, ele era uma ponte, um vínculo entre os fragmentos apagados e o mundo verdadeiro.

O Caminho da Integração

Elenya e Alarick já haviam partido há muitos anos, mas seu legado como restauradores do equilíbrio ecoava na Trama. Os sábios de Arvendell decidiram que Althir deveria aprender sobre o mundo real, não como uma entidade que busca moldá-lo, mas como alguém que poderia compreender as fronteiras entre os destinos rejeitados e os aceitos.

Com o tempo, ele começou a sentir as energias de Eredh'lan e a compreender os ecos esquecidos. Mas em sua jornada, descobriu algo inesperado, existiam histórias apagadas que não desejavam mais alterar o destino, apenas serem lembradas."

E assim, nasceu uma nova função dentro da ordem dos Guardiões da Trama: "O Arquivista dos Ecos", aquele que, em vez de lutar contra as sombras, registrava suas histórias para que jamais fossem esquecidas.

Dizem que, nas noites onde a névoa toca as colinas de Arvendell, algumas vozes podem ser ouvidas, não como ameaças, mas como relatos suaves do que um dia quase foi. E entre essas memórias, há uma "criança que não deveria existir", no entanto, encontrou seu propósito ao garantir que nenhuma história desaparecesse completamente.

Capítulo XXVII: A Aurora de Arvendell

O Véu Espectral tremulou uma última vez, como se resistisse ao inevitável, antes de se estabilizar em um brilho etéreo que parecia pulsar em harmonia com o próprio coração do universo. A sombra que carregava o semblante de Aeris, tão familiar e ao mesmo tempo tão distante, desvaneceu lentamente, como uma memória que se dissolve ao amanhecer. Elian, com o peito apertado por uma dor que era ao mesmo tempo aguda e reconfortante, havia tomado sua decisão. "Eu te amo, Aeris," ele murmurou, sua voz entrecortada, carregada de uma aceitação que lhe custara tudo. "Mas você já cumpriu sua história, e eu preciso seguir a minha."

Com essas palavras, o vínculo que os unia frágil, mas teimoso como uma teia de aranha sob a tempestade se rompeu. Um som sutil, quase imperceptível, ecoou pelo vazio, como o estalar de uma corda que finalmente cede. As Sombras Entre Mundos, criaturas nascidas do caos e da incerteza, recuaram, derrotadas não por força bruta, mas pela clareza da verdade. A Trama, o tecido invisível que sustentava a existência, pulsou em resposta, reconhecendo a escolha de Elian. Um equilíbrio, tão precário quanto uma chama em meio ao vento, foi restaurado.

Os Marcados Pelo Véu, exaustos, mas inteiros, observaram a aurora que começava a despontar sobre as colinas de Arvendell. Kael, com sua postura rígida e olhos sempre vigilantes, sentiu algo novo: o peso dos ecos, aquelas vozes antigas que o perseguiam, havia diminuído. Não era silêncio absoluto, mas uma quietude que permitia respirar. Lysara, cujos ouvidos sempre captavam os sussurros de mundos distantes, percebeu que as vozes estavam, pela primeira vez, em paz. Ela sorriu, um gesto pequeno, mas que carregava o alívio de quem finalmente encontra repouso.

O Ceifador Sem Nome, figura enigmática que parecia existir entre o ser e o não-ser, não disse nada. Ele apenas virou-se, sua capa esvoaçante misturando-se à névoa matinal, e caminhou para longe. Seu papel, fosse ele qual fosse, estava cumprido. Ninguém ousou segui-lo, pois sabiam que ele reapareceria apenas quando a Trama exigisse. Elenya e Alarick se aproximaram de Elian, que permanecia de pé, encarando o horizonte onde o céu se tingia de laranja e dourado.

Lágrimas silenciosas escorriam por seu rosto, mas sua expressão era de serenidade, como se ele tivesse encontrado algo precioso em meio à perda. "Ela sempre estará comigo," ele disse, sua voz firme, embora suave. Elenya assentiu, colocando uma mão gentil em seu ombro. "Não é preciso que ela exista novamente para que seja lembrada. A Trama guarda todas as histórias, mesmo aquelas que chegaram ao fim." Alarick, sempre mais prático, mas não menos empático, acrescentou: "Você fez o que poucos teriam coragem de fazer, Elian. Honrou a história dela e a sua própria."

Naquela manhã, o mundo permaneceu intacto. As árvores de Arvendell balançavam suavemente ao sabor da brisa, e os rios refletiam a luz dourada do sol nascente. A Trama, agora estabilizada, parecia cantar uma melodia sutil, audível apenas para aqueles que sabiam ouvir. Arvendell floresceu, não apenas em sua beleza natural, mas em algo mais profundo a promessa de continuidade, de um futuro moldado por escolhas corajosas. Dizem que, quando a aurora toca as terras de Arvendell, há um instante em que o tempo parece suspender sua marcha. 

Não porque hesita, mas porque reconhece as escolhas feitas, os destinos respeitados e a paz alcançada. É um momento de reverência, onde até o vento parece sussurrar histórias antigas, e o sol brilha como se celebrasse a resiliência daqueles que ousaram enfrentar o desconhecido. O Véu Entre Mundos ainda existe, um limiar tênue que separa o que é do que poderia ser. 

Os Marcados Pelo Véu permanecem como seus guardiões, vigilantes nas bordas da realidade, garantindo que nenhuma sombra perdida possa alterar aquilo que deve permanecer verdadeiro. Mas naquela manhã, entre as brisas suaves e a luz dourada, tudo estava exatamente como deveria ser. E, finalmente, Arvendell pôde seguir seu curso, carregando em seu coração as memórias de Aeris, de Elian e de todos aqueles que moldaram seu destino.

Capítulo XXVIII: O Requerimento do Horizonte

A aurora que banhara Arvendell com sua luz dourada havia se dissipado, dando lugar a um céu de azul profundo, onde as primeiras estrelas começavam a surgir. O equilíbrio restaurado pela escolha de Elian pulsava como uma corrente subterrânea, mas os Marcados Pelo Véu sabiam que a Tramação, embora estabilizada, nunca estava verdadeiramente em repouso. O universo era um tear em constante, e novas histórias sempre aguardavam para serem tecidas.

Elian caminhava pelas colinas de Vaeloria, uma região ao norte de Arvendell conhecida por seus campos de ervas luminosas que brilhavam sob a luz da lua. Ele carregava consigo uma leveza que não sentia há anos, mas também uma inquietação sutil, como se algo o chamasse além do horizonte. A memória de Aeris permanecia, não como um peso, mas como uma chama suave que o guiava. Ele sabia que sua jornada não havia terminado.

Kael e Lysara o acompanhavam, cada um perdido em seus próprios pensamentos. Kael, com sua espada embainhada e o olhar sempre alerta, parecia mais relaxado, mas sua mão nunca se afastava muito do cabo da arma. Lysara, por sua vez, segurava um tomo antigo, suas páginas amareladas repletas de runas que ela decifrava com um olhar concentrado. Silêncio entre os três era confortável, marcado apenas pelo som dos ventos que dançavam pelos campos.

"Você já sentiu isso antes?" perguntou Elian, quebrando o silêncio. Ele parou, olhando para o norte, onde uma linha de montanhas escuras se erguia contra o céu estrelado. Kael franziu o cenho. "O quê, exatamente?" "Um chamado," respondeu Elian, hesitante. "Como se a Trama estivesse sussurrando, pedindo para irmos além."Lysara levantou os olhos do tomo, seus lábios curvando-se em um sorriso enigmático. "A Trama nunca para de falar, Elian. 

Mas nem sempre sabemos ouvir. O que você sente pode ser um eco de algo maior, algo que ainda não compreendemos." Antes que Kael pudesse responder, um brilho súbito cortou o céu, como uma estrela cadente que se recusava a apagar. Ele caiu além das montanhas, deixando um rastro de luz prateada que parecia pulsar em sincronia com o coração de Elian. Os três se entreolharam, uma mistura de curiosidade e cautela em seus rostos. "Isso não foi natural," murmurou Kael, sua mão já no cabo da espada.

Lysara fechou o tomo com um estalo. "Não, não foi. A Trama está inquieta novamente. Algo novo cruzou o Véu." Elian sentiu um arrepio, mas não de medo. Era como se o chamado que o incomodava tivesse ganhado forma. "Então, vamos descobrir o que é." O trio seguiu em direção às montanhas, guiados pelo brilho que ainda tremulava no horizonte. O caminho era íngreme, e o ar ficava mais frio à medida que subiam, mas nenhum deles hesitou. As ervas luminosas de Vaeloria ficaram para trás, substituídas por rochas escuras e ventos cortantes. 

Quando finalmente alcançaram o topo, o que viram os deixou sem palavras. No centro de um vale escondido, uma fenda brilhante pairava no ar, como uma ferida na própria realidade. Dela, emanava uma luz prateada que parecia viva, pulsando como um coração. Sombras dançavam ao seu redor, mas não eram as Sombras Entre Mundos que eles conheciam. Estas eram diferentes mais fluidas, quase como se fossem feitas de água e luz. "O que é isso?" perguntou Kael, sua voz carregada de desconfiança. 

Lysara se aproximou, seus olhos brilhando com fascínio. "Um novo Véu," ela sussurrou. "Ou talvez algo mais antigo, algo que a Trama escondeu até agora." Elian deu um passo à frente, sentindo o chamado mais forte do que nunca. A fenda parecia falar com ele, não com palavras, mas com imagens fragmentadas, mundos distantes, estrelas que cantavam, e uma promessa de respostas para perguntas que ele ainda não sabia formular. 

"Não podemos ignorar isso," ele disse, sua voz firme. "Seja o que for, está ligado à Trama. E à nós." Kael resmungou, mas assentiu. "Então, o que fazemos? Entramos?" Lysara riu suavemente. "Você sempre tão direto, Kael. Mas sim, acho que não temos escolha. A Trama nos trouxe até aqui por um motivo." Elian olhou para a fenda, seu coração acelerado. Ele sabia que, ao cruzá-la, não haveria volta. 

Mas também sabia que sua história, assim como a de Aeris, era maior do que ele mesmo. Com um último olhar para seus companheiros, ele deu o primeiro passo em direção à luz. A fenda os engoliu, e o vale ficou silencioso, como se nunca tivesse sido perturbado. 

No céu, as estrelas brilhavam com uma intensidade renovada, como se celebrassem o início de uma nova história. Em Arvendell, a Trama continuou a tecer, paciente e eterna, enquanto os Marcados Pelo Véu enfrentavam o desconhecido, guiados apenas pela coragem e pela promessa de um destino ainda por ser escrito.

Capítulo XXIX: O Efeito da Promessa

A aurora que banhava Arvendell trouxe consigo um silêncio que parecia quase sagrado. Elian, ainda com o olhar fixo no horizonte, sentia o vazio deixado por Aeris, mas também uma estranha serenidade. A Trama, agora estabilizada, pulsava suavemente, como se agradecesse sua escolha. Ele sabia que o preço pago era alto, mas necessário. A sombra de Aeris, embora ausente, permanecia como uma cicatriz em seu coração, uma lembrança de que o amor, mesmo eterno, às vezes exigia despedidas.

Elenya, ao seu lado, colocou a mão em seu ombro. "Você fez o que poucos teriam coragem de fazer, Elian. A Trama não esquece tais sacrifícios."

Ele apenas assentiu, incapaz de encontrar palavras. Alarick, sempre mais prático, apontou para a cidade abaixo, onde as primeiras luzes das casas começavam a se acender. "O povo de Arvendell sente a mudança, mesmo sem compreender. Eles sabem que algo foi preservado hoje."

Lysara, que observava o céu com olhos distantes, aproximou-se. "As vozes estão caladas, mas a Trama ainda sussurra. Há algo novo se formando. Não uma ameaça, mas… uma promessa."

Kael, que até então permanecia em silêncio, ergueu uma sobrancelha. "Uma promessa? Depois de tudo, você ainda confia nos sussurros da Trama?"

Ela sorriu, um gesto raro que suavizou suas feições marcadas pelas batalhas. "Não é confiança, Kael. É entendimento. A Trama não é nossa inimiga, nem nossa aliada. Ela apenas é. E agora, ela nos oferece um momento de descanso."

O grupo permaneceu em silêncio, absorvendo as palavras de Lysara. O Ceifador Sem Nome, que havia desaparecido na névoa, deixou apenas a memória de sua presença enigmática. Elian se perguntava se ele retornaria, ou se sua partida era um sinal de que a ordem natural das coisas havia sido restaurada.

Enquanto desciam a colina em direção à cidade, o vento trouxe o som distante de risos e o tilintar de sinos. Arvendell celebrava, mesmo sem saber o porquê. As ruas estavam cheias de pessoas, crianças correndo com fitas coloridas, mercadores oferecendo seus produtos com um entusiasmo renovado. Era como se a própria terra exalasse alívio.

No centro da praça principal, uma estátua antiga de uma figura encapuzada segurando um tear a representação da Tecelã, a guardiã mítica da Trama parecia brilhar sob a luz do entardecer. Elian parou diante dela, sentindo um arrepio. Por um instante, jurou ver os olhos da estátua se moverem, como se o observassem.

"Você já sentiu isso antes?" perguntou ele a Elenya, que o seguira.

Ela olhou para a estátua, pensativa. "A Tecelã não fala, mas vê. Talvez ela esteja reconhecendo você, Elian. Ou talvez seja apenas o reflexo da sua própria alma."

Antes que ele pudesse responder, um jovem mensageiro, ofegante, correu até o grupo. "Senhores Marcados!" ele exclamou, curvando-se desajeitadamente. "O Conselho de Arvendell solicita sua presença no Salão da Luz. Eles dizem que é urgente."

Kael resmungou. "Não temos nem um dia de paz?"

Alarick riu, dando um tapa amigável nas costas de Kael. "Paz é para os mortos, meu amigo. Vamos ver o que querem."

O Salão da Luz era uma construção imponente, com vitrais que retratavam as eras de Arvendell. O Conselho, formado por cinco anciãos, aguardava com expressões graves. A líder, uma mulher chamada Veyra, ergueu-se quando os Marcados entraram.

"Marcados Pelo Véu," ela começou, sua voz ecoando no salão. "Agradecemos por tudo que fizeram. A Trama está segura, e Arvendell respira novamente. Mas há algo que precisamos discutir."

Elian trocou olhares com os outros. O tom de Veyra sugeria que a paz recém-conquistada poderia ser breve.

"Um artefato foi encontrado nas ruínas de Velthar, ao norte," continuou Veyra. "Um orbe, coberto por runas que nenhum de nossos sábios consegue decifrar. Ele emite uma energia que… perturba. Alguns dizem que é uma relíquia das Sombras Entre Mundos. Outros, que é algo mais antigo, algo que a própria Trama tentou esconder."

Lysara franziu o cenho. "E por que nos contam isso agora?"

Veyra hesitou antes de responder. "Porque o orbe começou a pulsar na mesma frequência que a Trama. E, na última noite, ele projetou uma imagem. Uma figura encapuzada, segurando um tear."

Um silêncio pesado caiu sobre o salão. Elian sentiu um aperto no peito. A imagem da Tecelã, novamente. Seria um aviso? Ou uma convocação?

"Vocês são os guardiões do Véu," disse Veyra, olhando diretamente para Elian. "Se há uma nova ameaça, ou uma nova história a ser escrita, cabe a vocês descobrirem."

Elenya deu um passo à frente. "Nós iremos. Mas saibam que, se isso for um erro, ou uma armadilha, o Conselho responderá por nos enviar às cegas."

Veyra assentiu, sem recuar. "Que a Tecelã os guie."

Enquanto saíam do salão, o crepúsculo envolvia Arvendell em tons de roxo e dourado. Elian olhou para seus companheiros, cada um carregando suas próprias cicatrizes e esperanças. Ele sabia que a jornada não havia terminado. Talvez nunca terminasse.

"Aeris," ele murmurou para si mesmo, sentindo o vento acariciar seu rosto. "Se você estiver me ouvindo, me dê forças."

E, com o eco de uma promessa ainda não cumprida, os Marcados Pelo Véu partiram rumo ao norte, onde o desconhecido os aguardava, e a Trama, mais uma vez, começava a tecer uma nova história.

Capítulo XXX: O Núcleo da Trama

As montanhas de Velthar erguiam-se como sentinelas quebradas contra o céu cinzento, suas encostas marcadas por cicatrizes de eras esquecidas. O ar era pesado, carregado com o cheiro de pedra úmida e algo mais: uma energia inquieta que fazia a pele de Elian formigar. Os Marcados Pelo Véu avançavam em silêncio, cada passo ecoando a tensão que os unia desde que deixaram Arvendell. O orbe descrito pelo Conselho pulsava em suas mentes, uma promessa de mistério e perigo.

Elian liderava o grupo, sua espada embainhada, mas a mão nunca longe do cabo. Desde a partida, ele sentia um vazio que não explicava, como se a Trama, agora estável, ainda tentasse sussurrar algo que ele não conseguia ouvir. Aeris, embora ausente, parecia pairar em seus pensamentos, uma presença tão real quanto o vento frio que cortava as ravinas.

"Você está quieto demais," disse Kael, caminhando ao seu lado. "Não confio quando você fica assim. Geralmente significa que algo está prestes a explodir."

Elian esboçou um meio sorriso. "Talvez seja só o frio. Ou talvez eu esteja cansado de correr atrás de relíquias que prometem mais problemas do que respostas."

Lysara, que seguia logo atrás, ergueu os olhos para as ruínas visíveis ao longe. "Esse orbe... ele não é uma relíquia comum. Eu sinto a Trama se dobrando ao redor dele, como se estivesse tentando contê-lo. Ou protegê-lo."

Alarick, carregando seu machado com a naturalidade de quem carrega uma extensão do próprio corpo, bufou. "Proteger ou conter, tanto faz. Se for perigoso, vamos destruí-lo. Se não for, pelo menos teremos uma boa história para contar."

Elenya, sempre atenta, parou subitamente, sua mão levantada para silenciar o grupo. "Vocês ouviram isso?" perguntou, os olhos fixos na escuridão entre as rochas.

O grupo ficou imóvel. Um som baixo, quase um zumbido, reverberava no ar, como o eco de um sino distante. Não era natural: era como se a própria terra estivesse cantando uma nota dissonante. Elian sentiu a Trama pulsar em resposta, um tremor sutil que correu por seus ossos.

"É o orbe", murmurou Lysara. "Está próximo."

As ruínas de Velthar eram um labirinto de pedra e sombra, colunas quebradas e altares cobertos de musgo que sugeriam uma civilização há muito esquecida. No centro, em uma câmara parcialmente desmoronada, encontraram o orbe. Ele flutuava a poucos centímetros do chão, suspenso por uma força invisível, sua superfície negra cravejada de runas que brilhavam em tons de azul e roxo. A cada pulso, o ar ao redor tremia, e imagens fugazes, rostos, paisagens, fragmentos de memórias, dançavam em sua superfície.

Elian deu um passo à frente, hipnotizado. Por um instante, jurou ver o rosto de Aeris refletido no orbe, seus olhos suplicantes. Ele piscou, e a imagem desapareceu.

"Não toquem nisso ainda," alertou Elenya, sua voz cortante. "Não sabemos o que ele faz."

Kael, ignorando o aviso, aproximou-se e estendeu a mão, mas antes que pudesse tocar o orbe, uma onda de energia o jogou para trás. Ele caiu com um grunhido, praguejando. "Isso não foi gentil."

Lysara se agachou ao lado do orbe, estudando as runas com uma expressão de fascínio e cautela. "Essas marcas... elas não são de nenhuma língua que eu conheça. Mas sinto a Trama nelas. É como se o orbe fosse um nó, um ponto onde todas as linhas da Trama convergem."

"Ou se cruzam," acrescentou Alarick, franzindo o cenho. "Se isso é um nó, o que acontece se o desfazermos?"

Antes que alguém pudesse responder, o zumbido se intensificou, e o orbe emitiu um clarão. Uma figura encapuzada emergiu da luz, não como uma projeção, mas como algo sólido, real. Era a Tecelã, ou pelo menos, uma manifestação dela. Seus olhos, escondidos sob o capuz, pareciam conter o peso de eras. Em suas mãos, um tear etéreo girava fios de luz que dançavam no ar.

"Marcados," sua voz ecoou, não alta, mas profunda, como se viesse de dentro de suas mentes. "Vocês encontraram o Núcleo da Trama, o coração das histórias que sustenta este mundo. Mas saibam que tocar o Núcleo é desafiar o equilíbrio que vocês mesmos juraram proteger."

Elian deu um passo à frente, seu coração acelerado. "Por que ele está aqui? Por que agora?"

A Tecelã inclinou a cabeça, como se avaliasse sua alma. "O Núcleo desperta quando a Trama é testada. A escolha de deixar Aeris partir foi apenas o começo. Agora, vocês devem decidir: proteger o Núcleo e preservar o que é, ou usá-lo para reescrever o que foi."

Lysara franziu o cenho. "Reescrever? Você está dizendo que podemos mudar o passado?"

A Tecelã não respondeu diretamente. "Toda escolha tem um custo. O Núcleo pode tecer novas histórias, mas cada fio novo corta outro. O que vocês desejam salvar, e o que estão dispostos a sacrificar?"

Elian sentiu um peso esmagador. A ideia de reescrever a história, de trazer Aeris de volta, era tentadora, mas ele sabia, no fundo, que a Trama não perdoava escolhas egoístas. Ele olhou para seus companheiros, cada um lidando com suas próprias dúvidas. Kael, com sua bravata escondendo o medo. Lysara, dividida entre curiosidade e responsabilidade. Alarick, firme, mas hesitante. Elenya, olhos na Tecelã, como se buscasse uma verdade que ainda não havia sido dita.

Capítulo XXXI: Os Ecos do Horizonte

O vento soprava suave pelos campos de Eryndor, carregando o aroma de ervas selvagens e o distante murmúrio do rio Thalren. Os Marcados Pelo Véu caminhavam em silêncio, cada um perdido em pensamentos após deixarem Elenya nas ruínas de Velthar. O peso de sua escolha ainda pairava sobre eles, uma lembrança de que mesmo as vitórias na Trama vinham com sacrifícios.

Elian, à frente do grupo, mantinha o olhar fixo no horizonte, onde o sol poente tingia o céu de tons alaranjados e púrpura. A ausência de Elenya era como uma nota dissonante em sua alma, mas ele se forçava a seguir em frente. A Trama exigia isso. Aeris, Elenya, e todos que haviam deixado sua marca no mundo agora dependiam daqueles que permaneciam para honrar suas histórias.

Kael quebrou o silêncio, sua voz mais contida do que o habitual. "Vocês acham que ela está bem lá? Sozinha com aquele orbe?"

Lysara, caminhando com as mãos entrelaçadas, respondeu sem desviar o olhar do chão. "Elenya é mais forte do que qualquer um de nós. Ela escolheu ser a sentinela. A Trama a protegerá."

"Ou a consumirá," murmurou Alarick, o machado apoiado no ombro. Ele parou por um momento, olhando para trás na direção de Velthar, agora apenas uma mancha indistinta contra as montanhas. "Nada naquela câmara parecia... acolhedor."

Elian virou-se para o grupo, sua expressão firme. "Ela sabia o que estava fazendo. Elenya não tomou essa decisão por impulso. Honramos ela seguindo em frente, não olhando para trás."

O grupo assentiu, mas a tensão permaneceu. A jornada até Eryndor fora motivada por rumores trazidos por mercadores: sinais de que as Sombras Entre Mundos, embora derrotadas em Arvendell, estavam se reagrupando nas terras baixas. Um novo líder, diziam, havia surgido entre elas, alguém ou algo que manipulava a Trama de maneiras que nem o Conselho conseguia prever.

Chegaram ao vilarejo de Lyrendell ao anoitecer. As casas de pedra e telhados de palha estavam silenciosas, as ruas desertas exceto por algumas lanternas tremeluzindo nas janelas. Um ancião os esperava na praça central, seu rosto enrugado iluminado pela luz de um lampião. Ele se apresentou como Voryn, o guardião das crônicas locais.

"Vocês são os Marcados," disse ele, sem preâmbulos. "Sabíamos que viriam. As sombras voltaram a se mover, e o Véu está inquieto."

Elian trocou olhares com os outros antes de responder. "O que você sabe? Quem está liderando essas sombras?"

Voryn gesticulou para que o seguissem até uma pequena capela, onde um altar simples exibia um tomo encadernado em couro. Ele abriu o livro, revelando páginas preenchidas com símbolos que lembravam as runas do Núcleo. "Não é uma pessoa, mas um eco," explicou. "Algo que se formou nas fendas da Trama, um vazio que ganhou consciência. Chamamos de A Lacuna."

Lysara inclinou-se sobre o tomo, seus olhos percorrendo as runas com intensidade. "Isso não é natural. É como se a Trama tivesse sido rasgada e algo... preenchesse o espaço."

"Exato," disse Voryn. "A Lacuna se alimenta de histórias não contadas, de fios que foram cortados antes de seu tempo. Cada escolha que vocês fizeram, cada sacrifício, fortaleceu o equilíbrio, mas também deixou fragmentos. Ela usa esses fragmentos para crescer."

Kael cruzou os braços, franzindo o cenho. "Então, o que fazemos? Caçamos essa coisa e acabamos com ela?"

Voryn balançou a cabeça. "A Lacuna não pode ser destruída com espadas ou magia. Ela é parte da Trama agora. Para detê-la, vocês precisam completar os fios que ela consome. Devem contar as histórias que foram silenciadas."

Alarick soltou uma risada seca. "Contar histórias? Isso é algum tipo de piada? Somos guerreiros, não bardos."

"E o que é um guerreiro senão alguém que carrega histórias?" retrucou Voryn, seus olhos brilhando com uma sabedoria antiga. "Cada golpe que vocês desferem, cada decisão que tomam, é um fio na Trama. A Lacuna teme a completude. Ela prospera no que é deixado inacabado."

Elian sentiu um arrepio. As palavras de Voryn ecoavam algo que ele já sabia, mas não queria enfrentar: as histórias de Aeris, de Elenya, e de todos que haviam cruzado seu caminho ainda estavam vivas, esperando para serem honradas. Ele olhou para o tomo, depois para seus companheiros. "Então, começamos aqui. Que histórias Lyrendell precisa contar?"

Voryn sorriu, como se aprovasse a pergunta. "Há um bosque ao norte, onde as sombras são mais densas. Lá, dizem, os ecos de uma família perdida ainda vagam, suas vozes presas na Trama. Libertem-nos, e vocês enfraquecerão A Lacuna."

O grupo partiu ao amanhecer, seguindo o rio até o bosque de Eryndral. As árvores eram altas e retorcidas, suas copas bloqueando quase toda a luz do sol. O ar era denso, carregado com sussurros que pareciam formar palavras, mas nunca claras o suficiente para serem compreendidas. Lysara guiava o caminho, sua conexão com a Trama permitindo que ela sentisse os fios desfeitos que permeavam o lugar.

No coração do bosque, encontraram uma clareira onde uma casa em ruínas estava coberta por trepadeiras negras. No centro, uma figura translúcida, uma mulher, flutuava, seus olhos vazios fixos no vazio. Ao seu redor, outras formas menores, crianças, talvez, apareciam e desapareciam como miragens.

"Eles estão presos," sussurrou Lysara. "Suas histórias foram cortadas antes do fim."

Elian avançou, sua mão instintivamente no cabo da espada, mas ele sabia que a lâmina não seria útil ali. "Como os libertamos?" perguntou.

Lysara fechou os olhos, estendendo as mãos. "Precisamos ouvir. Precisamos sentir o que eles deixaram para trás."

O grupo formou um círculo ao redor da clareira, cada um concentrando-se nos sussurros. Aos poucos, imagens começaram a surgir em suas mentes: uma mãe protegendo seus filhos de uma tempestade, um pai que nunca retornou, promessas quebradas, amor que resistiu mesmo na morte. Elian sentiu lágrimas escorrerem por seu rosto, não apenas pela dor daquela família, mas por todas as histórias que ele carregava, de Aeris, de Elenya, de si mesmo.

Lysara abriu os olhos, sua voz firme. "Vocês foram ouvidos. Suas histórias não serão esquecidas."

As figuras na clareira brilharam intensamente, e os sussurros se transformaram em um canto suave, harmonioso. A mulher olhou para os Marcados, um sorriso de gratidão em seu rosto, antes de desvanecer junto com as outras formas. As trepadeiras negras recuaram, e a luz do sol penetrou o bosque, aquecendo a clareira.

Kael exalou, limpando o suor da testa. "Isso foi... diferente."

Alarick assentiu, seu olhar distante. "Mas funcionou. Eu senti algo mudar."

Elian olhou para o céu, onde as nuvens se abriam para revelar um azul claro. "A Lacuna está mais fraca agora. Mas ainda não acabou."

Lysara fechou o tomo que trouxera consigo, sua expressão determinada. "Há mais histórias para contar. Em outros lugares, outros fios para completar."

O grupo deixou o bosque, seus passos mais leves, mas ainda carregados de propósito. A Trama estava viva, e enquanto houvesse histórias inacabadas, os Marcados Pelo Véu continuariam sua vigília. O horizonte os chamava, e com ele, a promessa de novos desafios, novas escolhas, e a esperança de que, fio por fio, o equilíbrio poderia ser mantido.

Capítulo XXXII: O Chamado do Abismo

Os ventos de Eryndor haviam se tornado mais cortantes à medida que os Marcados Pelo Véu seguiam para o norte, rumo às Falésias do Lamento. O céu, agora salpicado de estrelas, parecia observar seus passos com um silêncio inquietante. Após libertarem os ecos da família no bosque de Eryndral, uma nova urgência os impulsionava. Voryn, o guardião das crônicas, havia alertado sobre um lugar onde a Trama se desfazia em bordas frágeis, um precipício onde A Lacuna se fortalecia, alimentando-se de memórias roubadas e esperanças quebradas.

Elian caminhava à frente, o peso de sua espada mais leve do que o fardo em sua mente. Cada passo parecia ecoar as palavras da Tecelã: Toda escolha tem um custo. Ele se perguntava quantos custos ainda seriam exigidos antes que a Trama encontrasse paz verdadeira. Aeris, Elenya, e agora os rostos dos espíritos libertados no bosque o acompanhavam, não como fardos, mas como lembretes de por que ele continuava.

"Você já reparou que a Trama nunca nos dá um momento de descanso?" disse Kael, chutando uma pedra solta no caminho. Sua voz tentava soar leve, mas havia uma tensão subjacente. "Mal resolvemos uma coisa, e já tem outra esperando."

Lysara, segurando o tomo de Voryn contra o peito, respondeu sem olhar para ele. "A Trama não descansa porque o mundo não para. Histórias nascem e morrem a cada instante. Cabe a nós mantê-las em equilíbrio."

Alarick grunhiu, ajustando o machado no ombro. "Equilíbrio, histórias, fios... Estou começando a achar que somos mais escribas do que guerreiros."

Elian sorriu de leve, mas seus olhos permaneceram no horizonte, onde as Falésias do Lamento se erguiam como dentes negros contra o céu estrelado. "Somos o que a Trama precisa que sejamos. Hoje, somos guerreiros. Amanhã, quem sabe?"

As falésias eram um lugar de lendas antigas, onde se dizia que o Véu Entre Mundos era tão fino que os vivos podiam ouvir os mortos chorarem. Quando chegaram ao topo, o vento uivava como vozes em lamento, e o chão sob seus pés parecia vibrar com uma energia instável. No centro de uma plataforma natural, uma fenda irregular cortava a rocha, exalando um brilho púrpura que pulsava como um coração vivo. Era ali, segundo Voryn, que A Lacuna se manifestava com mais força.

Lysara se aproximou da fenda, seus olhos brilhando com a luz refletida. "É mais do que uma rachadura. É uma ferida na Trama. Sinto os fios se desfazendo, como se algo estivesse puxando a realidade para o vazio."

Kael franziu o cenho, apontando para o brilho. "E isso é A Lacuna? Ou só um sinal dela?"

Antes que Lysara pudesse responder, o brilho intensificou-se, e uma forma começou a emergir da fenda. Não era a Tecelã, nem um eco como os do bosque. Era algo disforme, uma massa de sombras que se contorcia, com olhos que brilhavam como estrelas mortas. Quando falou, sua voz era um coro de sussurros dissonantes, como se milhares de vozes lutassem para serem ouvidas.

"Marcados... vocês vêm para me silenciar, mas eu sou o que resta. Eu sou o que a Trama rejeita."

Elian desembainhou a espada, mas hesitou. A presença diante deles não parecia algo que pudesse ser derrotado com aço. "O que você quer, Lacuna? Por que está aqui?"

A massa de sombras riu, um som que fez o chão tremer. "Eu sou o vazio que vocês criam. Cada escolha, cada sacrifício, cada fio cortado me alimenta. Vocês salvaram Arvendell, libertaram os ecos, mas a cada vitória, deixam algo para trás. Eu sou esse algo."

Lysara deu um passo à frente, o tomo aberto em suas mãos. "Você não é nada além de um parasita. A Trama é maior que você. Podemos restaurar o que foi perdido."

A Lacuna se ergueu, sua forma se expandindo até preencher o céu acima das falésias. "Restaurar? Vocês só sabem cortar e remendar. Mas eu posso oferecer mais. Posso devolver o que perderam. Aeris. Elenya. Todos os que vocês deixaram para trás."

O nome de Aeris atingiu Elian como uma lâmina. Ele viu, por um instante, a imagem dela se formando na sombra, seus olhos gentis e sua voz suave chamando por ele. Mas ele cerrou os punhos, resistindo à tentação. "Você não é ela. Você é apenas um eco distorcido."

Kael, com a espada já em mãos, rosnou. "Chega de conversa. Vamos acabar com isso."

"Não!" gritou Lysara, segurando o braço de Kael. "Se lutarmos com violência, só vamos alimentar a Lacuna. Ela quer nosso desespero, nossa raiva. Precisamos fazer o oposto."

Alarick olhou para ela, confuso. "E o que isso significa? Cantar uma canção e esperar que ela suma?"

Lysara ignorou o sarcasmo e fechou os olhos, concentrando-se. "Precisamos tecer. A Lacuna se alimenta de histórias inacabadas. Então, vamos contar uma história completa. Uma que ela não possa corromper."

Elian entendeu imediatamente. Ele se ajoelhou ao lado de Lysara, sua voz firme apesar da tempestade de sombras ao redor. "A história de Eryndor. De Arvendell. De todos nós."

Um a um, os Marcados começaram a falar, suas vozes se unindo em um coro improvável. Elian falou de Aeris, de seu amor e de sua escolha de deixá-la partir para salvar a Trama. Lysara narrou as vozes que ouvira no bosque, as promessas de uma família reunida na memória. Alarick, hesitante no início, descreveu as batalhas que lutara, não por glória, mas por lealdade aos que estavam ao seu lado. 

Kael, com relutância, compartilhou sua própria história, de um homem que escondia o medo com bravata, mas que nunca abandonara seus amigos. À medida que falavam, a fenda na rocha começou a brilhar com uma luz dourada, contrastando com o púrpura da Lacuna. As sombras recuaram, encolhendo-se como se a luz as queimasse. A Lacuna gritou, sua voz agora fragmentada. "Vocês não podem me apagar! Eu sou eterno!"

"Você é apenas um vazio," disse Elian, levantando-se. "E o vazio não resiste à luz de uma história completa."

Com um último esforço, Lysara ergueu o tomo, e as runas nas páginas brilharam intensamente. Ela recitou palavras antigas, um cântico que parecia vindo da própria Trama. A luz dourada explodiu, engolindo a fenda e a Lacuna. Quando a claridade diminuiu, a plataforma estava silenciosa, a fenda selada, e o ar limpo do peso opressivo.

Kael caiu de joelhos, exausto. "Isso... funcionou?"

Alarick riu, um som rouco, mas aliviado. "Parece que sim. Mas não me peça para contar histórias de novo. Isso foi exaustivo."

Lysara fechou o tomo, seu rosto pálido, mas satisfeito. "A Lacuna não está destruída. Ela é parte da Trama, como nós. Mas por agora, a enfraquecemos. Demos a ela uma história que ela não pôde consumir."

Elian olhou para as estrelas, sentindo uma paz que não experimentava desde Arvendell. "Elenya ficaria orgulhosa," disse ele, quase para si mesmo. O grupo permaneceu nas falésias por mais um tempo, observando o amanhecer pintar o céu com tons de rosa e ouro. A Trama estava intacta, mas os Marcados sabiam que sua tarefa nunca terminaria. 

Enquanto houvesse histórias para contar, enquanto houvesse fios para tecer, eles continuariam carregando as memórias dos que vieram antes e a esperança dos que viriam depois. Com um último olhar para as Falésias do Lamento, eles partiram, prontos para o próximo chamado da Trama.

Capítulo XXXIII: O Fio Desfiado

O caminho que levava os Marcados Pelo Véu para além das Falésias do Lamento serpenteava por planícies ressecadas, onde o solo rachado parecia contar sua própria história de abandono. O céu, agora livre das sombras da Lacuna, carregava um tom acinzentado, como se a Trama hesitasse em celebrar a vitória recente. Elian sentia o peso de cada passo, não apenas pelo cansaço físico, mas por uma inquietação que crescia em seu peito. 

A Trama estava segura, mas algo parecia fora de lugar, como um fio solto em uma tapeçaria perfeita. Lysara caminhava ao seu lado, o tomo de Voryn seguro em seus braços, os olhos fixos nas páginas como se buscasse respostas que ainda não haviam surgido. "Sinto algo diferente," ela disse, quebrando o silêncio. "A Trama está... inquieta. Como se a Lacuna tivesse deixado uma marca que ainda não vemos."

Kael, ajustando a espada em sua bainha, bufou. "Você sempre sente algo, Lysara. Talvez seja só o vento. Ou a falta de uma boa refeição."

Alarick, que carregava o machado com a mesma facilidade de sempre, lançou um olhar de repreensão a Kael. "Se ela sente algo, é melhor ouvirmos. A última vez que ignoramos os instintos dela, quase fomos engolidos por sombras."

Elian parou, olhando para o horizonte onde uma cadeia de colinas baixas se erguia, coberta por uma névoa fina que parecia pulsar com uma luz fraca. "Lysara, o que exatamente você está sentindo?"

Ela hesitou, fechando o tomo com cuidado. "É como se a Trama estivesse tentando me mostrar algo, mas não consigo ver com clareza. Há um vazio, mas não como a Lacuna. É... pessoal. Como se um de nós estivesse ligado a isso."

Os olhos de Elian se estreitaram. "Um de nós?"

Antes que Lysara pudesse responder, um som baixo, como o estalar de galhos, veio das colinas. O grupo se colocou em posição de alerta, armas em punho, enquanto a névoa se agitava, revelando uma figura solitária. Era um homem, ou algo que já fora um homem, com vestes rasgadas e olhos que brilhavam com um cinza opaco. Ele não parecia hostil, mas sua presença fazia o ar parecer mais pesado.

"Marcados," disse ele, sua voz rouca, como se não fosse usada há séculos. "Vocês carregam o peso da Trama, mas um de vocês carrega um fio desfiado. Um erro que precisa ser corrigido."

Kael deu um passo à frente, a espada apontada. "Quem é você? E o que quer dizer com 'erro'?"

O homem inclinou a cabeça, como se ouvisse algo que os outros não podiam. "Eu sou um Eco, um fragmento de alguém que a Trama não terminou de tecer. Meu nome não importa, mas o fio que carrego pertence a um de vocês. Ele deve ser enfrentado, ou a Trama se romperá novamente."

Lysara abriu o tomo, suas mãos tremendo levemente. "Você está dizendo que um de nós deixou algo inacabado? Uma história que não foi contada?"

O Eco assentiu, apontando para Elian. "Você, Marcado. Seu fio está desfiado. O que você deixou para trás em Arvendell não está completo."

Elian sentiu um aperto no peito. Aeris. Sempre Aeris. Ele havia aceitado sua partida, havia feito as pazes com sua escolha, mas a menção de um fio desfiado reacendeu a dúvida. "Eu fiz o que era certo," disse ele, mais para si mesmo do que para o Eco. "Eu a deixei ir."

"E mesmo assim," respondeu o Eco, "há algo que você não enfrentou. Um momento, uma verdade, que você enterrou. Venha comigo, ou a Trama cobrará seu preço."

O grupo trocou olhares. Kael parecia pronto para protestar, mas Alarick colocou a mão em seu ombro, silenciando-o. "Se é algo que pode ameaçar a Trama, não temos escolha," disse Alarick. "Vamos."

O Eco os levou por um caminho estreito entre as colinas, até uma caverna escondida pela névoa. O interior era iluminado por cristais que pulsavam com uma luz suave, projetando sombras que pareciam dançar ao ritmo da Trama. No centro, um espelho de pedra polida refletia não seus rostos, mas fragmentos de memórias: batalhas, risos, lágrimas, momentos que haviam moldado suas vidas.

Elian se aproximou do espelho, sentindo o chamado da Trama como uma corrente puxando-o para dentro. A imagem que viu não era Aeris, como ele esperava, mas ele mesmo, mais jovem, em um momento que ele havia enterrado profundamente. Era o dia em que ele falhara em salvar um amigo, Lirion, durante uma incursão nas bordas do Véu. 

Ele havia escolhido salvar Aeris, e Lirion morrera. A culpa, ele percebeu agora, era o fio desfiado. "Eu não podia salvar os dois," murmurou Elian, sua voz quebrando. "Eu fiz uma escolha."

O Eco estava ao seu lado, sua presença quase reconfortante. "E essa escolha criou um vazio. Não por Lirion, mas por você. Você nunca se perdoou. A Trama não pode tecer um fio partido."

Lysara colocou a mão no ombro de Elian. "Você precisa contar essa história, Elian. Não para nós, mas para si mesmo. Perdoe-se."

Elian fechou os olhos, deixando as memórias fluírem. Ele falou, não com a força de um guerreiro, mas com a vulnerabilidade de alguém que carregava um peso por tempo demais. Contou como Lirion havia sorrido antes de partir, como ele havia dito que entendia a escolha de Elian. Contou como a culpa o seguira, mesmo quando ele salvava outros, mesmo quando ele restaurava a Trama.

Quando terminou, o espelho brilhou intensamente, e a imagem de Lirion apareceu, não como um eco atormentado, mas como uma figura em paz. "Você fez o que precisava, Elian," disse a imagem. "Agora, deixe-me ir."

O espelho escureceu, e o Eco ao lado deles começou a se dissolver, sua forma se desfazendo em partículas de luz. "O fio está tecido," disse ele, antes de desaparecer completamente.

Kael exalou, quebrando a tensão. "Isso foi... intenso. Alguém mais tem fios soltos que precisamos consertar?"

Lysara sorriu, mas seus olhos estavam marejados. "Todos nós temos, Kael. Mas hoje, foi o de Elian."

Alarick bateu no ombro de Elian, um gesto de apoio silencioso. "Você está bem?"

Elian assentiu, sentindo um peso menor em seu peito. "Estou. Pela primeira vez em muito tempo, estou."

O grupo deixou a caverna, a névoa se dissipando para revelar um céu claro, onde as estrelas brilhavam com uma intensidade renovada. A Trama, agora, parecia mais firme, seus fios mais alinhados. Mas Elian sabia que outros desafios viriam. A Trama era vasta, e cada Marcado carregava suas próprias histórias, seus próprios fios a serem tecidos.

Enquanto caminhavam de volta às planícies, Elian olhou para seus companheiros, grato por sua presença. "Vamos continuar," disse ele, sua voz firme. "Pela Trama. Por todos nós."

E com isso, os Marcados Pelo Véu seguiram em frente, prontos para enfrentar o próximo fio, o próximo eco, e a próxima história que a Trama lhes reservasse.

Capítulo XXXIV: O Fio da Culpa

O caminho que levava os Marcados Pelo Véu para além das Falésias do Lamento serpenteava por planícies ressecadas, onde o solo rachado parecia contar sua própria história de abandono. O céu, agora livre das sombras da Lacuna, carregava um tom acinzentado, como se a Trama hesitasse em celebrar a vitória recente. Elian sentia o peso de cada passo, não apenas pelo cansaço físico, mas por uma inquietação que crescia em seu peito.

A Trama estava segura, mas algo parecia fora de lugar, como um fio solto em uma tapeçaria perfeita. Lysara caminhava ao seu lado, o tomo de Voryn seguro em seus braços, os olhos fixos nas páginas como se buscasse respostas que ainda não haviam surgido. "Sinto algo diferente," ela disse, quebrando o silêncio. "A Trama está... inquieta. Como se a Lacuna tivesse deixado uma marca que ainda não vemos."

Kael, ajustando a espada em sua bainha, bufou. "Você sempre sente algo, Lysara. Talvez seja só o vento. Ou a falta de uma boa refeição."

Alarick, que carregava o machado com a mesma facilidade de sempre, lançou um olhar de repreensão a Kael. "Se ela sente algo, é melhor ouvirmos. A última vez que ignoramos os instintos dela, quase fomos engolidos por sombras."

Elian parou, olhando para o horizonte onde uma cadeia de colinas baixas se erguia, coberta por uma névoa fina que parecia pulsar com uma luz fraca. "Lysara, o que exatamente você está sentindo?"

Ela hesitou, fechando o tomo com cuidado. "É como se a Trama estivesse tentando me mostrar algo, mas não consigo ver com clareza. Há um vazio, mas não como a Lacuna. É... pessoal. Como se um de nós estivesse ligado a isso."

Os olhos de Elian se estreitaram. "Um de nós?"

Antes que Lysara pudesse responder, um som baixo, como o estalar de galhos, veio das colinas. O grupo se colocou em posição de alerta, armas em punho, enquanto a névoa se agitava, revelando uma figura solitária. Era uma mulher, com vestes esfarrapadas que pareciam tecidas de sombras, e olhos que brilhavam com um cinza opaco. Sua presença era fria, como se o ar ao seu redor se recusasse a se aquecer.

"Marcados," disse ela, sua voz um sussurro que parecia ecoar dentro de suas mentes. "Vocês caminham pela Trama, mas um de vocês carrega um fio partido. Um peso que ameaça romper tudo o que teceram."

Kael avançou, a espada meio sacada. "Quem é você? E o que quer dizer com 'fio partido'?"

A mulher inclinou a cabeça, como se escutasse algo além do alcance deles. "Eu sou um Eco, um fragmento da Trama que não encontrou descanso. Meu nome foi esquecido, mas minha tarefa é clara: guiar os Marcados para consertar o que está desfeito. E o fio que carrego é seu, Elian."

Elian sentiu o peito apertar, como se a Trama estivesse puxando um fio dentro dele. "Meu? Eu enfrentei a Lacuna. Fiz o que era necessário. O que mais a Trama quer de mim?"

O Eco apontou para as colinas, onde a névoa se intensificava. "Você enterrou uma verdade, Marcado. Em Arvendell, você deixou algo para trás, algo que ainda sangra. Venha comigo, ou a Trama cobrará seu preço."

Kael bufou, mas sua expressão era cautelosa. "Mais enigmas. Se é tão importante, por que não nos diz logo o que é?"

Alarick colocou a mão no ombro de Kael, silenciando-o. "Se a Trama está inquieta, não é algo que podemos ignorar. Vamos, Elian."

Lysara assentiu, apertando o tomo contra o peito. "A Trama nunca mente, mas às vezes esconde. Vamos descobrir o que ela quer mostrar."

O Eco os conduziu por um caminho sinuoso entre as colinas, até uma ravina onde a névoa se acumulava como um véu vivo. No centro, uma árvore retorcida crescia, suas raízes expostas brilhando com uma luz pálida. Em sua base, um círculo de pedras polidas formava um altar, e sobre ele, uma esfera de cristal pulsava, refletindo não o ambiente, mas fragmentos de memórias.

Elian se aproximou, sentindo a Trama vibrar em seus ossos. A esfera mostrou uma imagem: ele, mais jovem, em Arvendell, durante a incursão nas bordas do Véu. Lirion, seu amigo, lutava ao seu lado, rindo mesmo diante do perigo. Então, a cena mudou: Elian enfrentando uma escolha impossível, com Aeris ferida e Lirion preso sob escombros. Ele escolhera Aeris, e Lirion morrera.

A culpa, que ele pensara ter deixado para trás, voltou como uma onda. "Eu não podia salvar os dois," disse ele, a voz falhando. "Eu fiz o que achei que era certo."

O Eco pairou ao seu lado, sua forma tremeluzindo. "A Trama não julga suas escolhas, Marcado, mas você julga a si mesmo. Esse julgamento é o fio partido. Você nunca se permitiu enfrentar a dor."

Lysara tocou o braço de Elian, seus olhos gentis, mas firmes. "Você precisa falar, Elian. Dizer o que nunca disse. Não para nós, mas para a Trama. Para você."

Elian respirou fundo, as memórias pesando como pedras. Ele começou a falar, não como o líder dos Marcados, mas como o jovem que falhara. "Lirion era meu irmão, não de sangue, mas de coração. Ele confiava em mim, e eu o deixei morrer. Escolhi Aeris porque achava que podia salvá-la, mas nunca me perdoei por abandonar Lirion. Carreguei essa culpa como uma sombra, mesmo quando lutei pela Trama."

À medida que falava, a esfera brilhou, e a imagem de Lirion apareceu, não como uma acusação, mas como uma figura serena. "Você fez o que pôde, Elian," disse a imagem, sua voz suave como o vento. "Eu sabia o risco. Deixe a culpa ir. A Trama precisa de você inteiro."

As palavras de Lirion ecoaram, e a esfera pulsou uma última vez antes de se apagar. O Eco começou a se dissolver, sua forma se fragmentando em fios de luz que se misturaram ao ar. "O fio está tecido," disse ela, sua voz desaparecendo. "A Trama está satisfeita, por ora."

Kael, que observava em silêncio, soltou um suspiro. "Isso foi... mais do que eu esperava. Você está bem, Elian?"

Elian assentiu, sentindo um vazio onde a culpa outrora pesava. "Estou. Não é como se tudo estivesse resolvido, mas... posso carregar isso agora."

Alarick deu um tapinha no ombro de Elian, um gesto de camaradagem. "Você enfrentou seu passado. Isso é mais do que muitos conseguem."

Lysara abriu o tomo, verificando as páginas. "A Trama está mais calma, mas ainda sinto algo. Um eco maior, talvez. Não está aqui, mas está por vir."

O grupo emergiu da ravina, a névoa se dissipando para revelar um céu estrelado, as constelações brilhando como se aprovassem. A Trama parecia mais forte, seus fios mais alinhados, mas Elian sabia que a jornada estava longe do fim. Cada Marcado carregava suas próprias histórias, e a Trama ainda tinha muito a revelar.

"Vamos em frente," disse Elian, sua voz firme, mas mais leve. "Pela Trama. Pelos fios que ainda precisamos tecer."

Com isso, os Marcados Pelo Véu continuaram sua jornada, o horizonte à frente cheio de promessas e perigos, prontos para enfrentar o próximo capítulo que a Trama lhes reservasse.

Capítulo XXXV - O Fragmento da Verdade

O véu se fechou atrás dos Marcados Pelo Véu com um sussurro, como se a própria Trama selasse sua entrada no Fragmento. O mundo ao redor deles era um borrão de cores e formas, um lugar onde o céu parecia se fundir com o chão, e o tempo não seguia regras conhecidas. O ar era denso, carregado de uma energia que fazia a pele de Elian formigar. Ele segurava a espada com firmeza, os olhos fixos nas sombras que dançavam à distância, enquanto o grupo avançava com cautela.

Lysara, ainda segurando o tomo de Voryn, murmurava palavras antigas, como se tentasse ancorar a Trama ao seu redor. "Este lugar... não é como o mundo que conhecemos," disse ela, a voz baixa. "É como se estivéssemos dentro da própria Tapeçaria, onde cada fio é uma história, e cada história é um perigo."

Kael, visivelmente abalado, caminhava com passos hesitantes. Sua espada estava de volta à bainha, mas suas mãos tremiam levemente, como se ele temesse o que poderia encontrar. "Seja o que for que eu fiz," disse ele, mais para si mesmo do que para os outros, "vou enfrentar. Não vou deixar isso destruir a Trama."

Alarick, sempre o pilar de força, mantinha o machado em mãos, seus olhos varrendo o ambiente. "Fique focado, Kael. Seja o que for que está aqui, não vai nos dar tempo para hesitar."

O Fragmento parecia vivo, as sombras se movendo com propósito, formando contornos de memórias e ecos. À frente, uma estrutura se ergueu, como um templo feito de fios de luz entrelaçados, pulsando com a mesma energia que o véu. No centro, uma figura aguardava, a mesma figura encapuzada que Kael vira na visão de Sylvara. Sua presença era opressiva, como um peso que tornava cada passo mais difícil.

"Você," disse a figura, sua voz um eco distorcido que ressoava nos ossos do grupo. "Você voltou para cumprir o pacto, ou para tentar desfazê-lo?"

Kael deu um passo à frente, sua expressão endurecida, mas os olhos cheios de dúvida. "Eu não me lembro de você. Não me lembro do pacto. Diga o que quer de mim."

A figura riu, um som que parecia rasgar o tecido do Fragmento. "Você aceitou minha lâmina, mercenário. Naquela vila em chamas, quando tudo o que você amava estava perdido, você pegou minha oferta. Vida por servitude. Poder por um preço. E agora, a Trama exige que o preço seja pago."

Elian se posicionou ao lado de Kael, a espada meio sacada. "Se há um preço, diga logo o que é. Não viemos para jogos."

A figura inclinou a cabeça, como se divertida com a ousadia de Elian. "O preço é simples. O fio de Kael está preso a mim, um eco de uma promessa não cumprida. Para libertá-lo, ele deve enfrentar o que ele era naquele dia – o medo, o desespero, a fraqueza que o levou a aceitar meu presente."

Lysara abriu o tomo, suas mãos movendo-se rapidamente pelas páginas. "Você é um dos Antigos," disse ela, a voz carregada de certeza. "Um dos primeiros a tecer a Trama, antes de ela se tornar o que é. Você não é um eco, é um fragmento de algo maior. Por que está ligado a Kael?"

A figura virou-se para Lysara, e por um instante, o ar ao redor dela pareceu se dobrar. "Você é sábia, portadora do tomo. Mas a Trama não revela todos os seus segredos, nem mesmo a você. Eu sou o que resta de uma promessa quebrada, e Kael é o portador do meu fio. Ele deve enfrentá-lo, ou todos vocês cairão."

O templo de luz começou a pulsar mais intensamente, e o chão sob seus pés tremeu. Sombras se ergueram, tomando a forma de figuras do passado de Kael: rostos de sua vila, amigos que ele não pôde salvar, e ele mesmo, mais jovem, segurando a lâmina escura com olhos cheios de medo. Cada sombra parecia acusá-lo, suas vozes misturando-se em um coro de culpa.

"Você nos deixou queimar," disse uma sombra, com a voz de uma mulher que Kael reconheceu como sua irmã.

"Você escolheu a sobrevivência acima de tudo," acusou outra, um homem que outrora fora seu amigo.

Kael caiu de joelhos, as mãos cobrindo os ouvidos. "Eu não tinha escolha!" gritou ele. "Eu era jovem, eu estava com medo! O que eu podia fazer?"

Elian agarrou o ombro de Kael, puxando-o de volta à realidade. "Você não está mais naquele dia, Kael. Essas sombras são ecos, não a verdade. Enfrente-as. Enfrente quem você era."

Lysara se ajoelhou ao lado dele, o tomo aberto em uma página que brilhava com símbolos dourados. "A Trama guarda todas as histórias, Kael. Mas você pode reescrevê-la. Diga a verdade, não para essas sombras, mas para si mesmo."

Kael respirou fundo, os olhos marejados. Ele olhou para as sombras, para o jovem que ele fora, segurando a lâmina escura. "Eu estava com medo," admitiu, a voz rouca. "Eu vi tudo que amava queimar, e aceitei aquela espada porque achei que era minha única chance. Mas eu não sou mais aquele garoto. Eu lutei por outros, pela Trama, por esses aqui." Ele apontou para Elian, Lysara e Alarick. "Eu não sou mais seu servo," disse ele, encarando a figura encapuzada. "Seja quem for, você não me controla mais."

A figura encapuzada riu novamente, mas dessa vez o som era menos seguro. "Palavras corajosas, mercenário. Mas palavras não desfazem um pacto. Você deve destruí-lo."

O templo brilhou intensamente, e a lâmina escura apareceu no centro, flutuando no ar, pulsando com uma energia que parecia sugar a luz ao seu redor. "Toque-a," disse a figura. "Enfrente o que ela representa, ou ela consumirá seu fio e todos os outros."

Kael hesitou, mas Alarick deu um passo à frente, o machado erguido. "Se ele tocar essa coisa e morrer, você vai responder por isso," disse ele, a voz um trovão.

A figura não respondeu, apenas observou enquanto Kael se levantava, os punhos cerrados. Ele olhou para seus companheiros, vendo a confiança em seus olhos, e então para a lâmina. Com um grito de determinação, ele estendeu a mão e agarrou a espada.

O Fragmento explodiu em luz. Kael foi envolto por visões: a vila em chamas, sua irmã gritando, o desconhecido encapuzado rindo. Mas dessa vez, ele não recuou. Ele enfrentou cada memória, cada dor, e com cada passo, a lâmina em sua mão começou a se desfazer, seus fragmentos se dissolvendo em fios de luz que se entrelaçavam com a Trama.

Quando a luz diminuiu, Kael estava de pé, ofegante, mas inteiro. A figura encapuzada havia desaparecido, e o templo de luz começava a desmoronar, os fios se desfazendo como poeira ao vento. As sombras do passado haviam sumido, e o Fragmento parecia mais leve, como se a Trama tivesse encontrado equilíbrio.

Lysara fechou o tomo, um sorriso aliviado em seu rosto. "Você fez isso, Kael. O fio está tecido."

Elian bateu no ombro de Kael, um gesto de orgulho. "Você enfrentou seu passado. Não é algo que muitos conseguem."

Kael, ainda recuperando o fôlego, conseguiu um meio sorriso. "Não sei se estou livre disso, mas... sinto que posso carregar esse peso agora."

Alarick grunhiu, mas havia aprovação em seus olhos. "Vamos sair daqui antes que este lugar decida nos testar de novo."

O véu reapareceu à frente deles, agora mais claro, como se a Trama estivesse satisfeita. Eles o cruzaram, emergindo no bosque onde as árvores ainda pulsavam com luz verde. O ar estava menos pesado, e o céu acima exibia estrelas brilhantes, como se celebrasse a vitória dos Marcados.

Mas enquanto caminhavam, Lysara parou, olhando para o tomo. "A Trama está mais forte," disse ela, "mas ainda há ecos. Não tão próximos, mas... estão lá. Algo maior está por vir."

Elian assentiu, sua determinação renovada. "Então continuaremos. Um fio de cada vez."

Os Marcados Pelo Véu seguiram em frente, o caminho à frente incerto, mas suas histórias mais entrelaçadas do que nunca. A Trama os guiava, e eles estavam prontos para tecer o próximo capítulo, não importa o que ele trouxesse.

Capítulo XXVI: O Fio Desfeito

O véu se fechou atrás dos Marcados Pelo Véu com um sussurro, como se a própria Trama selasse sua entrada no Fragmento. O mundo ao redor era um borrão de cores e formas, um lugar onde o céu se fundia com o chão, e o tempo desafiava qualquer lógica. O ar, denso e carregado, fazia a pele de Elian formigar enquanto ele empunhava a espada, os olhos fixos nas sombras que dançavam à distância. O grupo avançava com cautela, cada passo ecoando como um desafio ao desconhecido.

Lysara, segurando o tomo de Voryn com firmeza, murmurava palavras antigas, como se tentasse ancorar a realidade instável ao seu redor. "Este lugar... não é como o mundo que conhecemos," disse ela, a voz baixa, quase reverente. "É como se estivéssemos dentro da própria Tapeçaria, onde cada fio é uma história, e cada história é um perigo."

Kael, visivelmente abalado, caminhava com hesitação. Sua espada repousava na bainha, mas suas mãos tremiam, traídas por um medo que ele tentava esconder. "Seja o que for que eu fiz," murmurou, mais para si mesmo, "vou enfrentar. Não vou deixar isso destruir a Trama."

Alarick, o pilar inabalável do grupo, mantinha o machado em mãos, seus olhos varrendo o horizonte instável. "Fique focado, Kael. Seja o que for que está aqui, não vai nos dar tempo para hesitar."

O Fragmento parecia vivo, as sombras movendo-se com intenção, moldando-se em ecos de memórias e contornos de pesadelos. À frente, uma estrutura emergiu do caos, um templo tecido de fios de luz pulsantes, vibrando com a mesma energia do véu. No centro, uma figura aguardava – a mesma silhueta encapuzada que Kael vira na visão de Sylvara. Sua presença era um peso opressivo, dificultando cada movimento.

"Você," disse a figura, sua voz um eco distorcido que ressoava nos ossos do grupo. "Você voltou para cumprir o pacto, ou para tentar desfazê-lo?"

Kael deu um passo à frente, a expressão endurecida, mas os olhos cheios de dúvida. "Eu não me lembro de você. Não me lembro de pacto nenhum. Diga o que quer de mim."

A figura riu, um som que parecia rasgar o tecido do Fragmento. "Você aceitou minha lâmina, mercenário. Naquela vila em chamas, quando tudo o que amava virou cinzas, você tomou minha oferta. Vida por servitude. Poder por um preço. E agora, a Trama exige que o preço seja pago."

Elian se posicionou ao lado de Kael, a espada meio sacada, pronto para agir. "Se há um preço, diga logo o que é. Não viemos para jogos."

A figura inclinou a cabeça, como se a ousadia de Elian a divertisse. "O preço é simples. O fio de Kael está preso a mim, um eco de uma promessa não cumprida. Para libertá-lo, ele deve enfrentar o que era naquele dia – o medo, o desespero, a fraqueza que o levou a aceitar meu presente."

Lysara abriu o tomo, suas mãos movendo-se rapidamente pelas páginas, os olhos brilhando com determinação. "Você é um dos Antigos," afirmou, a voz carregada de certeza. "Um dos primeiros a tecer a Trama, antes de ela se tornar o que é. Você não é um eco, é um fragmento de algo maior. Por que está ligado a Kael?"

A figura voltou-se para Lysara, e por um instante, o ar ao redor dela pareceu se dobrar, como se a realidade recuasse diante de sua presença. "Você é sábia, portadora do tomo. Mas a Trama não revela todos os seus segredos, nem mesmo a você. Eu sou o que resta de uma promessa quebrada, e Kael é o portador do meu fio. Ele deve enfrentá-lo, ou todos vocês cairão."

O templo de luz pulsou com mais intensidade, e o chão sob seus pés tremeu. Sombras ergueram-se do vazio, tomando formas do passado de Kael: rostos de sua vila, amigos que ele não salvou, e ele mesmo, mais jovem, segurando a lâmina escura com olhos tomados pelo medo. Cada sombra o acusava, suas vozes unindo-se em um coro de culpa.

"Você nos deixou queimar," disse uma sombra, com a voz de uma mulher que Kael reconheceu como sua irmã.

"Você escolheu a sobrevivência acima de tudo," acusou outra, um homem que outrora fora seu amigo.

Kael caiu de joelhos, as mãos tapando os ouvidos. "Eu não tinha escolha!" gritou, a voz quebrada. "Eu era jovem, estava com medo! O que eu podia fazer?"

Elian agarrou seu ombro, puxando-o de volta à realidade. "Você não está mais naquele dia, Kael. Essas sombras são ecos, não a verdade. Enfrente-as. Enfrente quem você era."

Lysara se ajoelhou ao lado dele, o tomo aberto em uma página que brilhava com símbolos dourados. "A Trama guarda todas as histórias, Kael. Mas você pode reescrevê-la. Diga a verdade, não para essas sombras, mas para si mesmo."

Kael respirou fundo, os olhos marejados. Encarou as sombras, fixando-se no jovem que ele fora, segurando a lâmina escura. "Eu estava com medo," admitiu, a voz rouca. "Vi tudo que amava queimar, e aceitei aquela espada porque achei que era minha única chance. Mas eu não sou mais aquele garoto. Lutei por outros, pela Trama, por esses aqui." Ele apontou para Elian, Lysara e Alarick. "Eu não sou mais seu servo," declarou, encarando a figura encapuzada. "Seja quem for, você não me controla mais."

A figura riu novamente, mas o som agora parecia menos firme, como se abalado pela determinação de Kael. "Palavras corajosas, mercenário. Mas palavras não desfazem um pacto. Você deve destruí-lo."

O templo brilhou com uma intensidade quase cegante, e a lâmina escura materializou-se no centro, flutuando, pulsando com uma energia que devorava a luz ao seu redor. "Toque-a," ordenou a figura. "Enfrente o que ela representa, ou ela consumirá seu fio e todos os outros."

Kael hesitou, mas Alarick avançou, o machado erguido, sua voz um trovão. "Se ele tocar essa coisa e morrer, você vai responder por isso."

A figura permaneceu em silêncio, apenas observando enquanto Kael se levantava, os punhos cerrados. Ele olhou para seus companheiros, vendo a confiança em seus olhos, e então para a lâmina. Com um grito de determinação, estendeu a mão e agarrou a espada.

O Fragmento explodiu em luz. Kael foi envolto por visões: a vila em chamas, sua irmã gritando, o desconhecido encapuzado rindo. Mas dessa vez, ele não recuou. Enfrentou cada memória, cada dor, e a lâmina em sua mão começou a se desfazer, seus fragmentos dissolvendo-se em fios de luz que se entrelaçavam com a Trama.

Quando a luz se dissipou, Kael estava de pé, ofegante, mas inteiro. A figura encapuzada havia desaparecido, e o templo de luz desmoronava, seus fios se desfazendo como poeira ao vento. As sombras do passado sumiram, e o Fragmento parecia mais leve, como se a Trama tivesse encontrado equilíbrio.

Lysara fechou o tomo, um sorriso aliviado em seu rosto. "Você fez isso, Kael. O fio está tecido."

Elian bateu no ombro de Kael, um gesto de orgulho. "Você enfrentou seu passado. Não é algo que muitos conseguem."

Kael, ainda recuperando o fôlego, esboçou um meio sorriso. "Não sei se estou livre disso, mas... sinto que posso carregar esse peso agora."

Alarick grunhiu, mas havia aprovação em seus olhos. "Vamos sair daqui antes que este lugar decida nos testar de novo."

O véu reapareceu à frente, agora mais claro, como se a Trama estivesse satisfeita. Eles o cruzaram, emergindo no bosque onde as árvores pulsavam com luz verde. O ar estava menos pesado, e o céu exibia estrelas brilhantes, como se celebrasse a vitória dos Marcados.

Mas Lysara parou, olhando para o tomo. "A Trama está mais forte," disse ela, "mas ainda há ecos. Não tão próximos, mas... estão lá. Algo maior está por vir."

Elian assentiu, a determinação renovada. "Então continuaremos. Um fio de cada vez."

Os Marcados Pelo Véu seguiram em frente, o caminho incerto, mas suas histórias mais entrelaçadas do que nunca. A Trama os guiava, e eles estavam prontos para tecer o próximo capítulo, não importa o que ele trouxesse.

Capítulo XXXVII: O Tear da Ruína

Os Marcados Pelo Véu emergiram do bosque, o ar agora carregado com um silêncio inquietante, como se a Trama prendesse a respiração. A vitória no Fragmento havia fortalecido seus laços, mas também revelara a fragilidade do equilíbrio que sustentava o mundo. O tomo de Voryn, ainda nas mãos de Lysara, pulsava com uma luz suave, mas suas páginas tremiam, como se pressentissem um perigo maior. O céu acima, outrora salpicado de estrelas, agora exibia rachaduras sutis, como vidro prestes a estilhaçar.

Elian liderava o grupo, sua espada embainhada, mas os sentidos aguçados. "Algo está errado," disse ele, os olhos fixos nas rachaduras celestes. "A Trama está instável. Sinto isso nos ossos."

Lysara, folheando o tomo, assentiu, sua expressão tensa. "O que fizemos no Fragmento foi apenas um remendo. O fio de Kael foi tecido, mas há outros... fios partidos, soltos. E algo está puxando eles."

Kael, ainda carregando o peso de sua provação, caminhava em silêncio, os olhos distantes. A lâmina escura não existia mais, mas ele sentia seu eco, como uma cicatriz em sua alma. "Seja o que for, está vindo por mim," disse ele, por fim. "Eu sinto. Como se eu fosse o centro de algo maior."

Alarick, sempre pragmático, segurava o machado com força. "Seja o centro ou não, não vamos esperar isso nos encontrar. Diga, Lysara, o que o tomo está mostrando?"

Ela parou, abrindo o tomo em uma página que brilhava com símbolos em espiral, como um mapa de constelações. "É um chamado," murmurou. "A Trama está nos guiando para o Tear da Ruína, um lugar onde os fios da realidade foram cortados. É antigo, mais antigo que os Antigos. Se não consertarmos esses fios, a Tapeçaria pode se desfazer."

O grupo seguiu o caminho indicado pelo tomo, atravessando planícies onde a grama parecia ondular sem vento, até chegarem a um desfiladeiro. No fundo, uma estrutura colossal se erguia: um tear gigantesco, feito de pedra e luz, com fios de energia esticados em direções impossíveis. Cada fio vibrava com um som grave, como um lamento, e as rachaduras no céu pareciam convergir diretamente acima dele.

"É aqui," disse Lysara, a voz quase engolida pelo zumbido do tear. "O Tear da Ruína. Onde os primeiros Antigos tentaram controlar a Trama... e falharam."

No centro do tear, uma figura se materializou, não mais encapuzada, mas feita de pura luz fragmentada, como um mosaico vivo. Seus olhos eram buracos negros, sugando a esperança do ar. "Vocês vieram," disse a figura, sua voz um coro de milhares de sussurros. "Mas chegaram tarde. O Tear já está em movimento. A Ruína é inevitável."

Kael deu um passo à frente, a mão instintivamente buscando a espada que não carregava mais a escuridão. "Se é inevitável, por que você está aqui nos esperando? Diga o que quer."

A figura inclinou a cabeça, como se estudasse Kael. "Você é o fio solto, mercenário. Sua escolha no Fragmento enfraqueceu o pacto, mas também abriu uma fenda. A Trama está frágil, e eu sou o guardião do Tear. Vocês podem tentar tecer os fios partidos, mas cada um de vocês carregará o peso de um sacrifício."

Elian franziu o cenho, a espada agora em mãos. "Sacrifício? Fale claro, criatura. Não temos paciência para enigmas."

A figura estendeu um braço, e os fios do tear brilharam, revelando visões: memórias de cada um dos Marcados. Elian viu sua vila natal, destruída por uma guerra que ele não pôde impedir. Lysara viu o dia em que aceitou o tomo, sacrificando sua liberdade para protegê-lo. Alarick viu seus irmãos de clã, mortos em uma batalha que ele liderara. E Kael... Kael viu a vila em chamas novamente, mas agora com um detalhe novo: ele mesmo, segurando a lâmina escura, mas hesitando antes de aceitar o pacto.

"Cada fio partido exige um preço," disse a figura. "Para tecer a Trama, vocês devem oferecer algo de si. Uma memória, uma verdade, uma parte de quem são. Escolham, ou o Tear os escolherá."

Lysara fechou o tomo com força, os olhos brilhando com determinação. "Não vamos jogar seu jogo sem saber as regras. O que acontece se recusarmos?"

A figura riu, um som que fez o desfiladeiro tremer. "Recusar é escolher a Ruína. A Trama se desfará, e tudo o que conhecem será apagado. Escolham agora."

O grupo trocou olhares, o peso da decisão pairando entre eles. Elian foi o primeiro a falar. "Eu ofereço a memória da minha vila. A culpa me prende, mas se for para salvar a Trama, que ela vá." Ele deu um passo à frente, e um fio do tear brilhou, absorvendo sua oferta. Elian cambaleou, como se algo essencial tivesse sido arrancado, mas permaneceu de pé.

Lysara respirou fundo, segurando o tomo com mais força. "Eu ofereço minha liberdade. O tomo me escolheu, mas eu escolho a Trama." Outro fio brilhou, e Lysara caiu de joelhos, o tomo pulsando em suas mãos como se reconhecesse sua escolha.

Alarick grunhiu, o machado ainda firme. "Meus irmãos. A culpa de suas mortes é minha. Leve isso." O tear respondeu, e Alarick cerrou os dentes, mas não cedeu.

Todos os olhos se voltaram para Kael. Ele olhou para o tear, para os fios partidos que ainda tremiam. "Eu já enfrentei meu passado," disse ele, a voz firme. "Mas se a Trama precisa de mais... eu ofereço minha dúvida. O medo de não ser suficiente. Que ele vá." Ele estendeu a mão, e o último fio brilhou, conectando-se aos outros.

O tear vibrou intensamente, os fios começando a se entrelaçar, consertando as rachaduras no céu. A figura de luz fragmentada observava, seus olhos negros indecifráveis. "Vocês teceram os fios," disse ela. "Mas a Trama nunca esquece. O que ofereceram os mudou, e o que está por vir testará essa mudança."

O tear colapsou em si mesmo, transformando-se em pó de luz que se dissipou no ar. As rachaduras no céu desapareceram, e o desfiladeiro ficou em silêncio. A figura havia sumido, mas sua presença ainda pairava, como um aviso.

Lysara abriu o tomo, agora mais leve em suas mãos. "A Trama está estável... por enquanto. Mas sinto que o Tear da Ruína não foi o último desafio."

Elian, ainda abalado, embainhou a espada. "Perdi a memória da vila, mas sinto ela de alguma forma. Como se a Trama a guardasse por mim."

Alarick bateu o machado no chão, um gesto de determinação. "Não importa o que perdemos. Estamos aqui. Vamos continuar."

Kael olhou para o horizonte, onde o céu agora brilhava claro. "Eu não duvido mais de mim. Mas sei que algo maior está vindo. E estarei pronto."

Os Marcados Pelo Véu seguiram em frente, o peso de seus sacrifícios os unindo ainda mais. A Trama, agora mais forte, os guiava para o próximo capítulo, um caminho cheio de promessas e perigos, onde cada fio tecido os aproximava do destino final.

Capítulo XXXVIII: O Ecoar do Sacrifício

Os Marcados Pelo Véu caminhavam sob um céu restaurado, mas o peso de seus sacrifícios ainda pairava como uma sombra. O Tear da Ruína havia sido selado, mas a Trama parecia vibrar com uma tensão nova, como se cada fio consertado tivesse revelado outros prestes a se romper. O tomo de Voryn, agora mais leve nas mãos de Lysara, emitia um brilho intermitente, suas páginas sussurrando segredos que ela ainda não conseguia decifrar completamente.

Elian, agora desprovido da memória de sua vila, caminhava com uma estranha leveza, mas seus olhos traíam uma inquietação. "É como se eu soubesse que algo falta, mas não consigo lembrar o que é," disse ele, a voz baixa, enquanto ajustava a espada no cinto. "A Trama guardou minha culpa, mas deixou um vazio."

Lysara, ainda sentindo o preço de sua liberdade sacrificada, segurava o tomo com mais reverência do que nunca. "A Trama não toma sem dar algo em troca," respondeu ela, os olhos fixos nas páginas. "Mas o que ela dá nem sempre é claro. Estamos mais ligados a ela agora, mas isso também nos torna alvos."

Alarick, cujo sacrifício da culpa pelos irmãos caídos o deixara mais silencioso, grunhiu em acordo. "Se somos alvos, que venham. Meu machado ainda corta." Apesar de suas palavras, havia uma sombra de dúvida em sua postura, como se a ausência da culpa tivesse deixado espaço para algo novo e indefinível.

Kael, por sua vez, parecia transformado. A dúvida que outrora o definia havia desaparecido, substituída por uma determinação fria. "Eu sinto a Trama agora," disse ele, olhando para o horizonte onde o céu encontrava a terra em uma linha difusa. "Como se eu pudesse ver os fios. Algo está se movendo, algo que não quer que a Trama continue sendo tecida."

O grupo seguiu um caminho traçado pelo tomo, que os levou a uma vasta planície de cinzas, onde o chão parecia pulsar com uma energia antiga. No centro, erguia-se um obelisco negro, coberto por runas que brilhavam em vermelho como brasas. O ar ao redor era quente, carregado de um cheiro de enxofre, e o silêncio era quebrado apenas por um zumbido baixo, como o som de um coração distante.

Lysara parou, o tomo vibrando em suas mãos. "Este é o Marco do Crepúsculo," disse ela, a voz carregada de cautela. "Onde os Antigos tentaram romper a Trama para criar seu próprio mundo. Eles falharam, mas deixaram um vazio... um lugar onde os ecos de suas ambições ainda vivem."

Antes que pudessem avançar, o obelisco brilhou intensamente, e o chão sob seus pés rachou. Sombras surgiram das fendas, não como as do Fragmento, mas como figuras humanas distorcidas, com olhos brilhantes e vozes que ecoavam em uníssono. "Vocês teceram os fios do Tear," disseram as sombras, suas vozes um coro dissonante. "Mas cada fio que consertam desperta os Ecos do Crepúsculo. Vocês nos trouxeram de volta."

Elian sacou a espada, posicionando-se à frente do grupo. "Se são ecos, não são reais. Podem ser cortados."

As sombras riram, um som que fez o ar tremer. "Não somos ecos de pessoas, espadachim. Somos os desejos dos Antigos, suas ambições, seus fracassos. Vocês deram a eles forma ao oferecerem seus sacrifícios."

Kael deu um passo à frente, os olhos fixos nas figuras. "Se são desejos, então são fraquezas. Diga o que querem, ou acabamos com isso agora."

Uma das sombras, maior que as outras, avançou, sua forma ondulando como fumaça. "Queremos o que vocês negaram à Trama: liberdade. Vocês teceram os fios partidos, mas cada sacrifício que fizeram nos deu força. Entreguem o tomo, e podemos refazer a Trama à nossa imagem."

Lysara apertou o tomo contra o peito. "O tomo é a voz da Trama. Vocês não vão tocá-lo."

A sombra riu, e o obelisco pulsou, enviando uma onda de energia que jogou o grupo para trás. O chão se abriu ainda mais, e as sombras começaram a tomar formas mais definidas: guerreiros com armaduras quebradas, magos com olhos ardentes, reis com coroas de cinzas. Cada um parecia carregar o peso de um desejo não realizado.

Alarick girou o machado, cortando uma sombra ao meio, mas ela se reformou imediatamente. "Não são como inimigos normais," rosnou ele. "Como lutamos contra desejos?"

Lysara abriu o tomo, as páginas virando sozinhas até uma que brilhava com símbolos prateados. "Não lutamos contra eles," disse ela. "Nós os enfrentamos com a verdade. A Trama é feita de histórias, e cada história tem um fim. Precisamos dar a eles o fim que nunca tiveram."

Ela começou a entoar palavras antigas, e o tomo brilhou intensamente, projetando fios de luz que se entrelaçaram com as sombras. Cada fio parecia puxar uma história para fora delas: visões de batalhas perdidas, tronos abandonados, amores traídos. As sombras gritavam, suas formas tremendo enquanto eram forçadas a enfrentar seus próprios fins.

Elian, inspirado pela magia de Lysara, avançou, sua espada traçando arcos de luz. "Se são desejos, então não têm poder sobre nós!" gritou ele, cortando uma sombra que se dissolveu em cinzas.

Kael, guiado por sua nova conexão com a Trama, sentiu os fios ao seu redor. Ele estendeu a mão, como se pudesse tocá-los, e viu um fio dourado ligando-o às sombras. "Vocês são o que os Antigos deixaram para trás," disse ele. "Mas eu não sou mais um eco do meu passado. Vocês também não precisam ser."

Com um gesto, ele puxou o fio, e as sombras começaram a se desfazer, seus gritos ecoando até se tornarem silêncio. O obelisco parou de pulsar, suas runas apagando-se uma a uma. O chão se fechou, e a planície de cinzas ficou imóvel, como se a Trama tivesse finalmente encontrado paz.

Lysara fechou o tomo, exausta, mas com um brilho de triunfo nos olhos. "Vocês deram a eles um fim," disse ela. "A Trama aceitou suas histórias."

Alarick limpou o machado, embora não houvesse sangue para limpar. "Isso foi diferente. Não gosto de lutar contra coisas que não sangram."

Elian riu, um som cansado, mas genuíno. "Pelo menos não precisamos carregar mais peso. Acho que o vazio está começando a fazer sentido."

Kael olhou para o obelisco, agora apenas uma pedra inerte. "Eles eram ecos, como eu já fui. Mas a Trama não é só sobre o passado. É sobre o que fazemos agora."

Lysara assentiu, folheando o tomo mais uma vez. "O Marco do Crepúsculo está selado, mas a Trama ainda está inquieta. Há mais fios soltos, e eles estão mais fortes. Estamos nos aproximando de algo... final."

O grupo trocou olhares, sabendo que cada passo os levava mais fundo no coração da Trama. Eles seguiram em frente, o obelisco às suas costas, o horizonte à frente prometendo novos desafios. Os Marcados Pelo Véu estavam mais unidos do que nunca, mas também mais cientes do preço que a Trama exigia. Cada fio tecido os aproximava do destino, mas também do desconhecido que os aguardava.

Capítulo XXXIX: O Fim dos Fios

Os Marcados Pelo Véu avançavam por um terreno que parecia desafiar a própria realidade. A planície de cinzas do Marco do Crepúsculo havia dado lugar a um deserto de espelhos, onde cada passo refletia não apenas seus corpos, mas fragmentos de suas almas – momentos de alegria, dor e escolhas que os moldaram. O céu acima era um vazio cinzento, sem estrelas ou rachaduras, como se a Trama tivesse se retraído, esperando o próximo movimento.

Lysara segurava o tomo de Voryn com mãos trêmulas, as páginas agora quase silenciosas, como se o próprio artefato temesse o que estava por vir. "Estamos próximos do coração da Trama," disse ela, a voz carregada de uma certeza inquietante. "Este lugar... é onde tudo converge. Onde os fios começam e terminam."

Elian, ainda adaptando-se ao vazio deixado pela perda de sua memória, olhava para os espelhos com desconfiança. Em um deles, viu um reflexo fugaz de sua vila, mas não sentiu a dor que esperava. "Se este é o coração, por que parece tão... morto?" perguntou, a mão no cabo da espada.

Kael, cuja conexão com a Trama se intensificara, sentia os fios ao seu redor como uma corrente invisível. "Não está morto," respondeu ele, os olhos percorrendo o horizonte de espelhos. "Está esperando. Como se soubesse que chegamos ao fim de algo."

Alarick, sempre alerta, mantinha o machado pronto, mas seus olhos traíam uma rara hesitação. "Se é o fim, que venha logo. Não gosto de lugares que brincam com a mente."

O grupo seguiu até que o deserto de espelhos terminou abruptamente em um círculo perfeito de pedra negra, no centro do qual havia um vazio – não um buraco, mas uma ausência de realidade, como se a Trama tivesse sido arrancada. Acima do vazio, flutuava um fio único, dourado e pulsante, que parecia conectar todos os espelhos ao seu redor. O ar vibrava com um som baixo, quase um lamento, e o tomo de Lysara abriu-se sozinho, revelando uma página em branco que começou a se preencher com símbolos dourados.

"Este é o Núcleo," disse Lysara, a voz quase um sussurro. "Onde a Trama foi criada. E onde ela pode ser desfeita."

Antes que pudessem reagir, o fio dourado brilhou intensamente, e uma figura emergiu do vazio. Não era um eco, nem uma sombra, mas uma entidade de pura energia, sua forma mudando entre rostos e corpos que pareciam pertencer a todos e a ninguém. "Vocês chegaram ao fim dos fios," disse a entidade, sua voz um eco que ressoava dentro de suas mentes. "Mas o fim é também o começo. A Trama exige uma escolha final."

Kael deu um passo à frente, sua determinação inabalável. "Chega de enigmas. Diga o que quer de nós."

A entidade inclinou a cabeça, como se avaliasse o grupo. "A Trama está sobrecarregada. Cada fio que teceram – cada sacrifício, cada vitória – adicionou peso. Para salvar a realidade, um de vocês deve se tornar o fio final, o que sustenta todos os outros. Mas esse fio não retorna. Ele se torna parte da Trama para sempre."

O grupo ficou em silêncio, o peso da escolha caindo sobre eles como uma tempestade. Elian apertou o punho da espada. "Se um de nós precisa ir, que seja eu. Já perdi minha vila. Não tenho mais nada para segurar."

Lysara balançou a cabeça, o tomo brilhando em suas mãos. "Não, Elian. O tomo me escolheu por um motivo. Se alguém deve ser o fio, sou eu. A Trama precisa de alguém que entenda seus segredos."

Alarick grunhiu, o machado erguido. "Vocês são tolos. Eu já vivi o suficiente. Meus irmãos estão mortos, minha culpa se foi. Deixem-me carregar esse peso."

Kael, no entanto, ergueu a mão, silenciando os outros. Seus olhos estavam fixos no fio dourado, e ele sentia sua conexão com a Trama mais forte do que nunca. "Eu era o fio solto," disse ele, a voz firme. "Fui eu quem começou isso, quem aceitou a lâmina escura, quem trouxe vocês até aqui. Se a Trama precisa de um fio final, sou eu."

Os outros protestaram, mas a entidade levantou a mão, e o ar ficou pesado, silenciando suas vozes. "A escolha é dele," disse ela. "Mas saibam que o fio final não é um sacrifício de morte, mas de existência. Ele será a Trama, e a Trama será ele. Escolha, Kael."

Kael olhou para seus companheiros, vendo a dor e a força em seus olhos. Ele pensou na vila em chamas, na lâmina escura, na dúvida que o consumira e na determinação que o reconstruíra. "Eu escolho," disse ele, por fim. "Por vocês. Pela Trama."

Ele estendeu a mão e tocou o fio dourado. O mundo explodiu em luz, e os espelhos ao redor refletiram não apenas Kael, mas todas as histórias que ele carregava – suas vitórias, seus medos, seus laços com os Marcados. O fio dourado se entrelaçou com seu corpo, e ele sentiu sua essência se fundir com a Trama, tornando-se algo maior, algo eterno.

Quando a luz diminuiu, Kael havia desaparecido. O vazio no centro do círculo de pedra estava selado, e o deserto de espelhos começou a se dissolver, dando lugar a um campo verdejante sob um céu claro. O tomo de Lysara fechou-se com um som suave, e uma nova página apareceu, com uma única linha escrita: "O fio final foi tecido."

Elian caiu de joelhos, a espada cravada no chão. "Ele se foi," murmurou, a voz quebrada. "Mas sinto ele... em tudo."

Lysara segurou o tomo contra o peito, lágrimas escorrendo por seu rosto. "Ele é a Trama agora. Cada história, cada fio, ele está lá, segurando tudo."

Alarick, pela primeira vez, deixou o machado cair, os ombros curvados. "Ele carregou o peso por nós. Sempre soube que ele faria isso."

O grupo ficou em silêncio, absorvendo a perda e a vitória. O céu acima brilhava com uma luz suave, e o ar estava leve, como se a Trama tivesse encontrado equilíbrio. Mas havia um vazio onde Kael estivera, um espaço que nenhum deles poderia preencher.

Lysara abriu o tomo mais uma vez, e as páginas começaram a brilhar com novas histórias. "A Trama continua," disse ela, a voz firme apesar da dor. "Kael nos deu isso. Vamos honrá-lo."

Elian se levantou, a espada de volta ao cinto. "Vamos contar as histórias dele. Vamos fazer a Trama valer a pena."

Alarick pegou o machado, a determinação retornando a seus olhos. "Um fio de cada vez."

Os Marcados Pelo Véu, agora apenas três, seguiram em frente, o campo verdejante se estendendo até o horizonte. A Trama estava segura, mas suas histórias continuariam, guiadas pelo fio final que Kael havia se tornado. O mundo estava mudado, mas a jornada deles estava longe de terminar.

Capítulo XL: A Tapeçaria Renascida

Os Marcados Pelo Véu, agora apenas Elian, Lysara e Alarick, caminhavam pelo campo verdejante que substituíra o deserto de espelhos. O ar era fresco, carregado com o perfume de ervas selvagens, e o céu exibia um azul profundo, como se a Trama tivesse se purificado com o sacrifício de Kael. Mas o vazio deixado por ele era palpável, uma ferida que nenhum deles ousava mencionar, embora seus olhares trocados falassem mais que palavras.

Lysara segurava o tomo de Voryn com uma mistura de reverência e melancolia. As páginas, agora calmas, brilhavam com uma luz suave, como se reconhecessem o equilíbrio restaurado. "Kael está aqui," disse ela, quase para si mesma, enquanto folheava o tomo. "Sinto ele em cada fio, em cada história. Ele nos deu uma chance de continuar."

Elian, cuja espada parecia mais leve sem o peso da culpa, olhou para o horizonte. "Ele fez mais que isso. Ele nos mostrou que a Trama não é só sobre sacrifícios. É sobre o que fazemos com o que resta." Sua voz carregava uma determinação nova, como se o vazio deixado por sua vila perdida tivesse sido preenchido por um propósito maior.

Alarick, sempre o mais reservado, caminhava com o machado apoiado no ombro. A ausência da culpa pelos irmãos caídos o tornara mais introspectivo, mas seus olhos brilhavam com uma força renovada. "Ele era o fio solto, mas também o mais forte. Vamos garantir que o que ele deu não seja desperdiçado."

O tomo de Lysara começou a vibrar, suas páginas virando sozinhas até uma nova página, onde símbolos dourados formavam um mapa etéreo. "A Trama está nos chamando novamente," disse ela, franzindo o cenho. "Mas não é um aviso de perigo. É... uma promessa. Um novo começo."

O mapa os guiou por colinas suaves até uma clareira cercada por árvores antigas, cujas folhas brilhavam como se tecidas com fios de luz. No centro da clareira, erguia-se um tear menor que o do Tear da Ruína, mas feito inteiramente de energia pulsante, com fios multicoloridos dançando em harmonia. Não havia peso opressivo, apenas uma sensação de criação, como se o próprio mundo estivesse sendo reescrito.

Uma figura apareceu diante do tear, não como inimiga, mas como uma presença serena. Era uma mulher de pele luminosa, com olhos que pareciam conter todas as histórias da Trama. "Vocês são os Marcados," disse ela, sua voz como uma melodia suave. "E vocês salvaram a Tapeçaria. Eu sou a Tecelã, a primeira a tocar os fios. Kael me libertou ao se tornar o fio final."

Elian deu um passo à frente, a mão no cabo da espada por instinto, mas sem hostilidade. "Kael se foi por causa disso. O que você quer de nós agora?"

A Tecelã sorriu, um gesto que trouxe paz ao coração do grupo. "Não quero nada além de mostrar o que vocês conquistaram. A Trama estava à beira do colapso, mas seus sacrifícios – e o de Kael – a restauraram. Agora, ela precisa de vocês para tecer o futuro."

Lysara abriu o tomo, que brilhou em sincronia com o tear. "O futuro? A Trama sempre nos testou. Como sabemos que não haverá mais ecos, mais rupturas?"

A Tecelã ergueu a mão, e os fios do tear formaram imagens: cidades reconstruídas, povos unidos, florestas crescendo onde antes havia cinzas. "A Trama é feita de escolhas. Vocês provaram que podem tecer com coragem e sacrifício. Agora, ela os convida a criar, não apenas a consertar."

Alarick, pela primeira vez, abaixou o machado completamente. "Criar? Não sou um tecelão. Sou um guerreiro."

A Tecelã riu, um som como sinos ao vento. "Guerreiro, sábia, espadachim – todos vocês são tecelões. Cada batalha, cada palavra, cada passo é um fio. Kael ensinou isso a vocês."

Elian olhou para seus companheiros, vendo a força que os unia. "Se é isso que a Trama quer, então vamos fazer valer a pena. Por Kael. Por todos que perdemos."

A Tecelã assentiu, e o tear brilhou intensamente, enviando fios de luz que se conectaram ao tomo de Lysara. "O tomo agora é mais que um guia. Ele é uma ferramenta de criação. Usem-no para tecer histórias de esperança, de união, de redenção."

Lysara sentiu o tomo pulsar em suas mãos, como se estivesse vivo. "E os Antigos? Os ecos? Eles voltarão?"

A Tecelã olhou para o céu, onde uma estrela solitária brilhou por um instante. "Os Antigos são parte da Trama, assim como vocês. Seus ecos podem surgir, mas enquanto houver tecelões como vocês, a Trama prevalecerá. Kael garante isso."

O tear começou a se dissolver, seus fios se espalhando pelo ar como sementes de luz, caindo sobre o campo e fazendo florescerem árvores novas. A Tecelã começou a desaparecer, sua forma se fundindo com a luz. "Vão, Marcados. Teçam o mundo que desejam. A Trama está com vocês."

Quando a luz se dissipou, a clareira estava silenciosa, mas vibrante de vida. O tomo de Lysara estava aberto em uma página nova, com um único símbolo: um fio dourado entrelaçado com outros, representando Kael e os Marcados.

Elian sorriu, um gesto raro e genuíno. "Um novo começo. Acho que posso me acostumar com isso."

Alarick bufou, mas havia um brilho de esperança em seus olhos. "Desde que não precise tecer com agulha e linha."

Lysara riu, fechando o tomo com cuidado. "Vamos tecer com nossas escolhas. Kael nos mostrou o caminho."

Os três seguiram em frente, deixando a clareira para trás. O mundo à frente era incerto, mas cheio de possibilidades. A Trama, agora renascida, pulsava com suas histórias, e os Marcados Pelo Véu estavam prontos para escrever o próximo capítulo não mais como salvadores, mas como criadores de futuro, que honraria todos os fios que os trouxeram até ali.

Epílogo: O Fio Eterno

Anos se passaram desde que os Marcados Pelo Véu cruzaram o Núcleo e teceram o fio final. O mundo, outrora à beira do colapso, florescia com uma vitalidade renovada. Cidades erguiam-se onde antes havia cinzas, florestas cantavam com ventos que carregavam ecos de esperança, e as pessoas contavam histórias de um tempo em que a Trama quase se desfez – e de como foi salva por aqueles que ousaram enfrentá-la.

Elian, agora com fios grisalhos entrelaçados em seus cabelos, tornara-se um guardião errante. Sua espada, ainda afiada, era usada não para lutar contra sombras, mas para proteger os novos fios que a Trama tecia. Ele viajava entre vilas, ensinando às crianças as histórias dos Marcados, especialmente a de Kael, o fio final que se tornou a própria Tapeçaria. Em seus momentos de solidão, ele olhava para o céu, sentindo a presença de Kael em cada estrela, e sorria, sabendo que sua vila perdida vivia nas histórias que contava.

Lysara, guardiã do tomo de Voryn, estabelecera-se em uma academia nas montanhas, onde os sábios vinham aprender os segredos da Trama. O tomo, agora uma relíquia de criação, era usado para ensinar outros a tecer histórias de união e redenção. Ela escrevia incansavelmente, registrando as jornadas dos Marcados, mas nunca mencionava o vazio que sentia sem Kael. Em vez disso, encontrava consolo nas páginas do tomo, onde cada novo símbolo parecia pulsar com a essência de seu amigo perdido.

Alarick, cuja força nunca diminuíra, escolheu uma vida mais simples. Ele construiu uma forja em uma vila pacífica, onde forjava armas e ferramentas para aqueles que precisavam. Seu machado, agora pendurado acima da lareira, era um lembrete de batalhas passadas, mas ele raramente falava delas. Quando as crianças da vila pediam histórias, ele contava as façanhas dos Marcados com um brilho nos olhos, sempre terminando com a promessa de que a Trama cuidava dos seus.

Em noites claras, os três, mesmo estando tão distantes, sentiam o mesmo chamado. Olhavam para o céu, onde uma constelação nova brilhava um padrão de fios dourados que os sábios chamavam de "O Fio de Kael". Diziam que, quando a Trama tremia, a constelação brilhava mais forte, como se lembrasse ao mundo que o equilíbrio fora conquistado por um preço.

A Trama, agora renascida, continuava a se expandir, guiada pelas escolhas de incontáveis almas. Os ecos dos Antigos ainda sussurravam em lugares esquecidos, but a presença de Kael, entrelaçada em cada fio, mantinha a realidade firme, os Marcados Pelo Véu haviam cumprido seu destino.

Contudo suas histórias inspiravam outros a tecerem seus próprios fios, criando um mundo onde cada escolha, cada sacrifício, era um passo em direção à eternidade. E assim, a Tapeçaria vivia, não como um fim, mas como um começo infinito, onde cada história, cada vida, era um fio no tear eterno da Trama. FIM!

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